Um país a saque


Paulo Ferreira
Os últimos dias têm sido particularmente difíceis para o governo de Pedro Passos Coelho. A juntar-se à grave crise económica e social que promete arrastar o país, durante vários anos, para a pobreza e o desemprego, surge agora uma panóplia de situações muito pouco abonatórias para a credibilidade do governo.

A questão da licenciatura de Miguel Relvas é apenas um pormenor na monumental trapalhada em que o governo se viu embrulhado. Bem mais grave é o que se passa nas pastas da saúde, justiça e economia. O Ministério da Saúde está “sem rei nem roque” e o SNS em sério risco de implodir. Os brutais aumentos das taxas moderadoras, o encerramento sem qualquer critério de um conjunto de estruturas de saúde e a vergonhosa forma como estão a ser recrutados profissionais da área, não pode deixar ninguém indiferente. É verdade que, pessoalmente, nada disto me surpreende. O PSD teve o mérito de, em toda a campanha, avisar ao que vinha. No entanto, com a concretização da sua política, os efeitos são ainda mais devastadores do que até eu próprio supunha.

Na justiça, a actual titular da pasta, para além de trabalhar em função dos casos que pontualmente surgem na comunicação social, tem em marcha uma reforma na organização dos Tribunais que tornará a justiça ainda mais distante dos cidadãos. Por outro lado, no que concerne à região do Vale do Sousa, a proposta de reorganização dos Tribunais é um absurdo. Obrigar os cidadãos da nossa região, num conjunto importante de processos, a deslocarem-se a comarcas da área metropolitana do Porto, é um sinal inequívoco que tudo isto foi desenhado a régua e esquadro. O disparate está feito, é verdade, mas espero que os responsáveis políticos da região consigam que, em vez de um monumental disparate, esta reforma seja “apenas” uma enorme estupidez. A diferença pode não ser muita, mas há aspectos nesta proposta que breves segundos de lucidez permitirão perceber que não fazem qualquer sentido.

Finalmente, na pasta da economia, o Ministro Álvaro é cada vez mais o fantoche do governo. Se já não bastasse a recessão e o crescimento exponencial do desemprego, o episódio da Metro do Porto deveria fazê-lo corar de vergonha. É desolador ver o titular de uma pasta tão importante ser manipulado e de forma risível, por personalidades menores da vida partidária. O país, esse segue silenciosamente para o abismo e até a Constituição da República Portuguesa parece já não ter qualquer valor. Apenas um ano se passou desde que o actual governo tomou posse, mas os estragos são já enormes e alguns irreparáveis. Pode ser que, um dia, Portugal acorde.
 
Paulo Ferreira
in: Verdadeiro Olhar