"O jornal "A
Região"
(http://pt.scribd.com/doc/99797889/Miguel-Relvas-UM-VERDADEIRO-ARTISTA )
contava, em 1997, já lá vão 15 anos, as aventuras e desventuras de um deputado de Santarém.
O rapaz tinha um currículo partidário imaculado na sua passagem por
concelhias, distritais, jota e outras estruturas partidárias que lhe
iriam garantir a equivalência em várias cadeiras na Universidade.
Contava o jornal, e já tinha revelado o "Templários", que o rapaz tinha o
estranho hábito de viver em várias moradas ao mesmo tempo. Nenhuma
batia certo. Vivia em Lisboa, dizia a lista telefónica. E vivia em
Tomar, em três moradas diferentes, conforme aquilo a que se candidatasse, dizia ele nos documentos oficiais.
A razão para a confusão de moradas é simples: dando
uma das suas várias supostas moradas de Tomar, e não aquela onde
realmente vivia, em Lisboa, poderia receber o subsídio de deslocação. A coisa saiu em todo o lado, assim como o seu envolvimento, no final dos anos 80, no escândalo das viagens fantasma. As malandrices de Relvas eram um segredo de polichinelo.
Ninguém no PSD ignorava quem era Miguel Relvas.
A sua fama de rapaz talentoso para contornar as regras e as leis em
beneficio próprio vem de longe. Começou tão cedo - ainda nem 30 anos
tinha quando se envolveu no caso das "viagens fantasma" -, que o seu
currículo de aldrabices está largamente documentado.
Não, o primeiro-ministro, que anda pelo PSD
há muitos anos e conheceu bem a fauna jotinha do seu partido (Passos foi
presidente da JSD já Relvas tinha sido seu secretário-geral), sabia muitíssimo bem que era o seu ministro.
Sempre soube. Não o escolheu como seu aliado para ganhar o partido
pelas suas capacidades políticas ou intelectuais. Escolheu-o pelo seu
talento em mexer-se na lama. E depois meteu-o no governo, com um poder
quase absoluto sobre os restantes ministros, sobretudo nas pastas onde
possa haver bons negócios.
Ontem, o reitor da Universidade Lusófona demitiu-se.
Fez bem. Assumiu as responsabilidades de um processo de tal forma
estapafúrdio que estava a transformar a sua universidade numa anedota
nacional. É curioso que uma universidade privada se preocupe mais com a sua imagem do que um governo. Ainda mais, um governo que exige aos portugueses tantos sacrifícios.
Por estes dias, Passos Coelho não descobriu nada
sobre o carácter de Relvas que não soubesse há muito tempo. Ainda assim,
seria de esperar que se preocupasse com as aparências. Restam três
justificações possíveis para Passos Coelho não demitir imediatamente tão
incómodo ministro: tem medo de o ver à solta, depende dele para
manter a fidelidade da mafia do partido ou nada disto o choca porque, na
realidade, só aparentemente são diferentes um do outro.
Seja como for, Miguel Relvas é hoje o calcanhar de
Aquiles de Passos Coelho. E é bem feita. Ele sabia bem com quem se
estava a meter. Quem chega mais alto às cavalitas de um coxo deve estar preparado para cair com ele. Por mim, acho excelente que Relvas se mantenha no governo. Na sua exuberância, é uma excelente montra da natureza ética de um governo que vive dos negócios e para os negócios."