Era o que se dizia, há muito tempo (ou,
se calhar, não tanto como isso), de quem não tinha estudos mas perfazia
uma vida cheia de experiência, prática, trabalho, o que equivalia a
dificuldades, pobreza, percalços, infortúnios.
Depois, já mais perto da
atualidade, foi criada uma coisa chamada Novas Oportunidades, que dizia
que uma experiência profissional era um curriculum que, até
certo ponto e mediante certos limites, merecia equivalência ao ensino
básico. Fazia algum sentido, era uma forma de conceder acreditação
elementar a quem nunca tinha tido oportunidade de estudar e merecia
reconhecimento.
Mas para certas pessoas, algumas com um indisfarçável
desprezo pelo trabalho suado e honesto, um desdém pela igualdade de
oportunidades e uma profunda aversão pela justiça social, tudo isto era
facilitismo, um sinal da desbunda de esquerda, um irreversível
sintoma do caos cósmico-social. Ah! exames da 4ª classe do Salazar é que
era, nesse tempo é que havia ensino a sério, professores capazes,
alunos atenciosos e aplicados. Esta gente está hoje no poder. E vai daí,
bye bye Novas Oportunidades, bem-vindos exames, avaliações, castigos à moda antiga. Acabou a palhaçada e o eduquês,
as modernices dos planos individuais de recuperação, dos exames
específicos para alunos com necessidades especiais, as avaliações
contínuas.
Azar. Hoje soube-se que o
ministro-padrão deste governo, aquele que ameaça jornalistas e que sai
lampeirinho do caldo, fez a sua licenciatura apenas em um ano, pescou
uma única cadeira de frequências anteriores (em Direito... e um 10) e o
resto que falta... bom, o resto, como diz a notícia, justifica-se por
uma lei de 2006, que "prevê
que as universidades e politécnicos possam reconhecer “através da
atribuição de créditos, a experiência profissional” de pessoas que já
tendo estado inscritos no ensino superior pretendam prosseguir estudos".
Um Novas Oportunidades Superiores, ao que vejo.
Bem. Se Passos Coelho
chamou ao Novas Oportunidades "um escândalo" e "um certificado à
ignorância", o que chamaria a isto?
in: Jugular
in: Jugular