Passos Coelho garante que não vai "enxamear" o Estado com boys do PSD -
25 de Abril de 2011
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Passos supera Sócrates em nomeações em dois anos de mandato -
2 de Junho de 2013
'Boys'. 1027 nomeações, do total de 4463 em dois anos de mandato, foram
para cargos de confiança política nos 14 gabinetes do Executivo
Quase
dois anos depois das eleições, o Governo para de coligação PSD/CDS já
nomeou 4463 pessoas: 1027 para os gabinetes ministeriais, 1617 para
cargos dirigentes da administração pública e 1819 par grupos de trabalho
e outras nomeações. Em media, ministros e secretários de Estado
nomearam já mais pessoas por gabinete do que Sócrates nos seus primeiros
anos de mandato
Em quase dois anos Governo de Passos nomeou 4463 pessoas
Nomeações.
São 1027 para gabinetes ministeriais, 1617 em cargos dirigentes e 1819
para grupos de trabalho e outros. Em média, ministros e secretários de
Estado deste Executivo nomearam já mais pessoas por gabinetes do que
Sócrates nos seus dois primeiros anos de mandato
MIGUEL MARUJO
Pedro
Passos Coelho assumiu como um dos seus primeiros compromissos
eleitorais "apresentar um Governo com uma dimensão historicamente
pequena". Estávamos a dois meses das eleições de 5 de junho de 2011, e o
presidente do PSD dizia ainda que era preciso "deixar claro que os
membros do Governo não podem recrutar ilimitadamente uma espécie de
administração paralela nos seus gabinetes".
Dois anos depois das
eleições, o governo de coligação PSD/CDS já nomeou 4463 pessoas: 1027
para os gabinetes ministeriais, 1617para cargos dirigentes da
Administração Pública e 1819 para grupos de trabalho e outras nomeações.
As
1027 pessoas indicadas para os gabinetes ministeriais (segundo os
despachos publicados em Diário da República até sexta-feira, 31 de maio)
representam uma média de 73 nomeações por gabinete, mais do que as 54
nomeações em média por gabinete dos dois primeiros anos (2005-2007) do
primeiro Governo socialista de José Sócrates (ver números), que no total
indicou 1077 pessoas nesse período. Para esta comparação, o DN
considerou 14 gabinetes ministeriais no atual Governo: o do
primeiro-ministro, mais os gabinetes dos 11 ministros iniciais -
incluindo os respetivos secretários de Estado - e mais dois após a
remodelação de abril (a primeira que mexeu na equipa de ministros). No
executivo de José Sócrates foram considerados 20 gabinetes ministeriais
(o chefe de Governo, mais 16 ministros e três após remodelações, entre a
tomada de posse a 12 de março de 2005 e 12 de março de 2007, quando da
contabilidade de nomeações publicada então pelo DN).
Passos
Coelho queria um governo mínimo de dez ministros e 25 secretários de
Estado, mas com a coligação formada com o CDS, o número de governantes
cresceu: 11 ministros e 35 secretários de Estado. Hoje, depois de
sucessivas remodelações (que apenas por uma vez atingiu ministros),
estes membros do gabinete são agora 38. Em abril de 2005, o líder
social-democrata apontava aos eleitores o caminho a seguir: "Um membro
do Governo tem direito a escolher um chefe de gabinete, uma ou duas
secretárias de confiança, um ou dois adjuntos. Acabou. O resto que tiver
que recrutar tem que recrutar na administração."
Dias depois da
tomada de posse do Governo, a 22 de junho de 2001, notícias davam conta
da moralização pretendida por Passos Coelho, com o anúncio de cortes nas
regalias dos gabinetes. "Para dar o exemplo, porque este tem de vir
sempre de cima", dizia então um governante ao semanário Sol.
A
intenção tropeçou na realidade. Só o gabinete do primeiro-ministro já
nomeou, de um total de 62 pessoas, dez adjuntos (dois foram exonerados
entretanto). A estes juntam-se 17 assessores (seis deles já saíram), mas
também 11 secretárias (uma exonerada) e 15 motoristas (com quatro já
exonerados). Estes números estão de acordo com a lei: o gabinete do
chefe de Governo pode ter um chefe de gabinete, dez assessores, 15
adjuntos e 20 secretários pessoais. A legislação atual estabelece ainda
que cada ministro pode ter um chefe de gabinete, cinco adjuntos e quatro
secretários pessoais, enquanto que os secretários de Estado podem
nomear também um chefe de gabinete, mas apenas três adjuntos e dois
secretários pessoais.
Nos despachos de nomeação para os
gabinetes, há muitos nomeados com a designação de "técnico
especialista", "especialista", "especialista/assessor" e
"colaboradores", conforme os Ministérios e Secretarias de Estado. Alei
estabelece que estas nomeações têm um caráter excecional, para
colaborarem nos gabinetes na realização de estudos, trabalhos ou missões
de caráter eventual ou extraordinário. Mas a prática corrente dos
executivos tem sido outra, como já denunciou o Tribunal de Contas em
2007. Na altura, numa auditoria, este organismo apontou o dedo ao facto
de serem recrutados especialistas que eram "sistematicamente"
equiparados a "adjuntos e secretários pessoais", contornando o seu
caráter temporário. Segundo contas de então, mais de 80% destes
"especialistas" tinham permanecido em funções até ao final da vigência
do gabinete.
Mais nomeações na administração pública Se o atual
Governo já indicou 2644 pessoas para os gabinetes e para cargos
dirigentes (excluindo os grupos de trabalho), o executivo liderado por
José Sócrates nomeou nos referidos dois anos de mandato, pelo menos,
2373 pessoas, segundo o DN de então, das quais 1296 pessoas para os mais
variados cargos e funções em organismos da administração pública.
Passos Coelho nomeou, em igual período, 1617cargos dirigentes.
Para lá dos números
Os
milhares de nomeações estão publicadas no portal do Governo. Mas a
prometida publicitação transparente de tudo tem lacunas e histórias por
contar
A "transparência" prometida tem omissões
No mesmo
dia em que Passos Coelho prometeu o governo mínimo, defendeu a
publicitação de todas as nomeações na Internet, através do portal do
Governo. "Nós assumimos o compromisso de publicarmos, todos os meses,
com toda a transparência, na Internet, todas as nomeações que forem
feitas, explicando quem é aquela gente, de onde vêm, que habilitações
têm, o que vão fazer e o que vão ganhar. Transparência", prometia assim o
então candidato social-democrata. Mas a página onde moram as nomeações
sempre mostrou lacunas, apesar da advertência, ali colocada, de que "os
despachos de nomeação e designação para os gabinetes encontram-se, em
alguns casos, ainda em fase de elaboração, após o que serão publicados
em Diário da República, constituindo-se nesse momento como título
jurídico bastante para todos os efeitos". Para além de nomes que não
constam do portal (77 casos identificados), faltam as nomeações das
secretarias de Estado do Desporto e Juventude (tem novo titular desde 13
de abril), da Igualdade e Assuntos Parlamentares (Teresa Morais foi
reconduzida) e dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (também com novo
titular).
Relvas começou por dar 'erro,' agora foi 'apagado'
É
o caso mais insólito da página de nomeações do Governo: todos aqueles
que foram "recrutados" por Miguel Relvas, até à sua demissão em abril
último, foram apagados do portal do Governo. A página onde se liam as
nomeações do então ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, depois
da sua saída, era um link que dava erro. Depois de uma notícia do DN a
dar conta do facto, os gestores do portal - que até aí estava sob a
tutela do gabinete de... Relvas - não encontraram melhor solução do que
apagar qualquer referência aos 40 nomeados pelo ministro e seus
secretários de Estado. Mais: na listagem dos governantes não há nada que
indique que Miguel Relvas, Feliciano Barreiras Duarte, Paulo Júlio e
Ana Rita Barosa (e outros secretários de Estado entretanto remodelados)
foram membros do XIX Governo Constitucional. A organização do site não
prevê um "arquivo" para o atual executivo, onde sejam "arrumados" os
governantes entretanto substituídos na equipa de Passos Coelho. O portal
foi objeto de uma profunda remodelação em janeiro do ano passado,
agregando todos os sites próprios de ministérios e secretarias que
existiam antes.
Há mais três grupos de trabalho
O Governo
anunciou nos últimos dias a criação de mais três grupos de trabalho,
ferramenta a que a equipa de Passos Coelho tem recorrido para responder
às necessidades da governação. Ontem, o ministro da Solidariedade e da
Segurança Social anunciou que criou dois destes grupos para, no prazo de
seis meses, encontrarem soluções que permitam rever as leis da adoção. A
9 de maio, o Governo aprovou outro grupo para definir as "prioridades
de intervenção dos fundos estruturais e de investimento no ciclo 2014-
2020", sob a coordenação do ministro Miguel Poiares Maduro. Nos três
casos, os governantes tiveram o cuidado de sublinhar que não há "custos
associados" ou "remuneração adicional". Mas não há cálculos totais de
quanto custam de facto os cerca de 150 grupos já criados (atualmente a
funcionar serão cerca de 100, com uns 900 nomeados), uma vez que há
despachos omissos sobre se há cabimento para despesas de representação. E
há outros que escapam a esta lista: o "grupo de sábios" que, na
Economia, pensou o plano de reindustrialização foi "informal" pelo que
"não [careceu] de nomeação", como se escreveu em março no DN.
Motoristas com salários de 'alta cilindrada'
O
caso provocou polémica quando foi conhecido em 2011, quando se soube
que Alexandre Meireles tinha sido contratado por ajuste direto pelo
gabinete de Miguel Relvas por um período de "912 dias (2 anos, 5 meses e
29 dias)". Custo total: 73 446 euros, um valor bruto de 2448,22 euros
mensais - justificados então pelo gabinete do ministro ao Correio
daManhãpelo facto "de que seria menos dispendioso recorrer à prestação
de serviços". Nem no gabinete do primeiro-ministro há ordenados tão
elevados (o mais elevado é pouco acima dos 2000 euros). Os salários dos
motoristas têm valores muito díspares (de cerca de 500 euros até aos
referidos 2448), com alguns a verem o seu ordenado suportado em parte
pelos locais de origem (nem sempre se revela quanto). Mas também há
casos em que os valores foram revistos. António José Figueira que serviu
até março de 2012 no gabinete de Passos Coelho, com um ordenado de
675,78 euros, passou para a equipa de Relvas com um salário de 1848,53
euros, o valor mais constante nas folhas de vencimento dos motoristas do
governo. Poiares Maduro manteve estes dois profissionais ao seu
serviço, com os mesmos ordenados.
in: SMMP