"Com o evidente objectivo de dar cobertura ao Ministro da Saúde, Henrique Raposo escreve no
Expresso uma série de falsidades em relação à greve dos médicos. E, a
menos que pretenda caluniar uma classe por inteiro, Henrique Raposo deu
mostras de muito desconhecimento em relação a este processo.
Num estilo fanfarrão, mais próprio de quem fala de tipos que
conseguiram licenciaturas por equivalência, Henrique Raposo escreve que “os médicos já entradotes mantêm promoções na carreira (na restante função pública, as promoções estão congeladas)”, dando
ideia da existência de um regime de excepção que não existe - os
médicos têm as promoções congeladas como os outros funcionários públicos;
na verdade, e ao contrário de todos os outros funcionários públicos, os
profissionais de saúde têm as licenças sem vencimento congeladas pelo
actual Ministro, encontrando-se numa situação de discriminação negativa
em relação aos outros.
Em segundo, Henrique Raposo diz que os médicos fazem esta greve porque “o ministro resolveu baralhar as contas das horas extraordinárias”
dos tarefeiros. Ora o opinador comete a incrível proeza de acusar os
médicos precisamente daquilo que os médicos contestam. Se tivesse lido o
pré-aviso de greve, bastaria isso, Henrique Raposo teria percebido que os médicos contestam a obrigatoriedade de horas extraordinárias e a contratação dos tais médicos tarefeiros.
Será que não leu ou preferiu fazer de conta que não tinha lido? (E não
se pense que esta é uma guerra de hoje: a Ordem dos Médicos e os
sindicatos sempre se manifestaram a favor das carreiras médicas e contra os contratos individuais de trabalho e a contratação de tarefeiros).
Em terceiro, Henrique Raposo dá mostras de ter dificuldades com a
ordem temporal dos acontecimentos. Ao contrário do que escreve, os
médicos não convocaram esta greve depois do Ministro garantir “o preenchimento de 1000 vagas até ao final do ano” mas sim depois
de sete meses em que o Ministério se recusou a negociar com os
representantes dos médicos e avançou com medidas que destroem o Serviço
Nacional de Saúde e proletarizam o trabalho dos profissionais de saúde como, aliás, reconhece o próprio Primeiro-Ministro.
Numa semana em que o Expresso afirmou
que não precisa de lições nem de equivalências para defender a
verdade, seria bom que tratasse de rever a fidedignidade das informações
contidas nos textos de alguns dos seus cronistas. A liberdade
de se colocarem na tarefa de amestrados do governo não está em causa. O
que se contesta é que o ódio debitado periodicamente contra médicos,
professores, enfermeiros e funcionários públicos em geral não seja
sustentado por argumentos verdadeiros e factuais, mas por um conjunto de
afirmações genéricas, imprecisas e, muitas vezes, caluniosas. De outro modo, a opinião publicada no Expresso corre o risco de se tornar numa autêntica Mixórdia de Mentiras. E não creio que Ricardo Costa se orgulhe disso."
in: anamnese