O grande negócio da austeridade

Certamente motivado pela agenda de transformação estrutural deste governo, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos (Jerónimo Martins) decidiu diversificar a sua actividade e aventurar-se no negócio das clínicas privadas. Confirma-se que a política de saúde deste governo é uma óptima oportunidade de negócio. 

João Galamba, bens não transaccionáveis

Ficamos a aguardar pela enésimas diatribes da sua fundação sobre os insustentáveis direitos sociais. Tudo tem o seu papel na complexa divisão de trabalho do grande grupo económico capitalista com investimentos intelectuais à altura do poder político detido e das ambições de expansão para onde haja lucros a realizar à custa de assimetrias de poder e de conhecimento. Desde a fundação deste blogue, no governo Sócrates, que temos vindo a insistir que as políticas de privatização directa ou indirecta de bens e serviços públicos, naturalmente muito concentrados na área dita dos bens preponderantemente não transaccionáveis, estão em fatal contradição com a mensagem que poderes públicos preocupados com o desenvolvimento devem enviar aos grupos económicos: ide trabalhar para os transaccionáveis, dirigidos à substituição de importações e à exportação, e larguem a fruta doce do Estado social, seus malandros.

Esta contradição aprofunda-se decisivamente e só poderá ser superada através de uma política de protecção da integridade dos serviços públicos acompanhada e, isto é cada vez mais decisivo, de uma alteração do quadro monetário e financeiro associado a uma renegociação da abertura aos fluxos globais que impedem políticas industriais, de protecção e de atenuação da chantagem por parte das fracções extrovertidas do capital, que o Grupo Jerónimo Martins simboliza, de desglobalização em suma. O actual enquadramento externo explica aliás grande parte dos investimentos dos grupos económicos: no contexto de uma moeda forte e sem flexibilidade e de uma globalização irrestrita, a fracção dominante do capital nacional e a sua expressão política foram para onde tiveram incentivos para ir, dados os sinais cambiais e outros, e agora querem continuar nessa senda.

Sem instrumentos de política adequados para promover o desenvolvimento, e estes não serão recuperados sem rupturas com a integração europeia realmente existente, tudo favorece um capitalismo cada vez mais predador, por um lado, e um impotente discurso moralista, por outro. Quem perde sempre é a prática democrática soberana e as classes cuja prosperidade tende a ser proporcional à sua robustez.

in: Ladrões de Bicicletas