O rigor com que os senhores da Entidade Reguladora para
a Comunicação Social (ERC) trabalham ficou, na semana passada, mais uma
vez, evidente. Carlos Magno confessou que aprovou a deliberação da
ERC convencido que lá estava escrito que tinha existido "uma pressão
inaceitável" de Miguel Relvas à jornalista do "Público". Não estava.
Estamos a falar do presidente de uma entidade reguladora que tem ali a
sua principal atividade profissional. Estamos a falar da deliberação
mais relevante, pelo menos do ponto de vista da opinião pública, desde
que preside à entidade reguladora. E Carlos Magno não sabia muito bem o
que estava escrito na versão final.
O mesmo Carlos Magno já tinha explicado este caso: "há
neste momento uma campanha generalizada para bater no homem" [Miguel
Relvas]. Quem tem esta convicção (ou quer tê-la) dificilmente poderia
analisar este caso com o mínimo de rigor e imparcialidade.
Outro membro da ERC, Raquel Alexandra, nomeada pelos
deputados do PSD e amiga próxima (segundo a própria) de Miguel Relvas,
disse que foi "vítima de chantagens e de ameaças" para que houvesse
outro tipo de decisão."Houve uma tentativa de instrumentalização dos
membros do conselho regulador, indirecta, triste, através do poder
editorial, por quem não faço a mínima ideia, mas por quem queria que a
deliberação tivesse um determinado resultado", explicou a ex-jornalista.
Ficámos sem saber, até porque quem faz a acusação no Parlamento (e não
no café) também não sabe, quem fez essas ameaças. E, já agora, ficámos
sem saber se elas foram "inaceitáveis" ou "ilegítimas".
Não deixa de ser extraordinário que um membro da
entidade, que esteve a analisar uma pressão documentada e com
protagonistas identificados e que, mesmo assim, nada encontrou de
relevante para tomar uma posição, vá ao Parlamento fazer acusações
difusas, sem identificar quem acusa. Mostra que estas pessoas não têm a
mínima ideia das funções que desempenham e do recato e rigor que elas
exigem. Não é novo. Escrevi exatamente o mesmo sobre os anteriores
membros da ERC. E a razão é simples: uma delegação parlamentar (é disso
que se trata) não pode regular a comunicação social. É o seu pecado
original. Não estão acima dos pequenos combates partidários. Estão na
parte mais rasteira desses mesmos combates.
Daniel Oliveira
Publicado no Expresso Online