O dirty little secret de Passos Coelho e Marques Mendes

1. Marques Mendes, como vimos ontem, é o nome indicado para substituir Miguel Relvas no cargo de Ministro dos Assuntos Parlamentares. O próprio Marques Mendes já veio, ontem, desmentir a sua ida para o Governo, afirmando que não está na política activa e as as remodelações só se fazem com quem está na política activa. Ora, Marques Mendes nunca se divorciou da política activa, muito menos da partidária: ele não sabe viver sem o PSD. Pode gostar muito da sua vida profissional, mas creio que nenhum português tem dúvidas que Marques Mendes quer voltar a desempenhar um cargo político. Aliás, o que se passou ontem no seu programa foi assaz curioso.

2. Com efeito, Marques Mendes lá explicou que não quer ir para o Governo - e que Passos Coelho aparentemente nem sequer lhe aventou tal possibilidade. Parece que Marques Mendes nem sequer fala com o Governo e com Passos Coelho. Não! Nada disso! Mas, logo a seguir no seu comentário, Marques Mendes fez o quê? Anunciou que o Governo irá criar uma taxa sobre as parcerias público-privadas, bem como outras medidas de redução da despesa. Note-se que Marques Mendes não disse que "acha", que "acredita", que "tem a forte convicção"....Não: Marques Mendes afirmou que o Governo vai tomar aquelas medidas. Sem dúvidas. O que significa, indubitavelmente, que Marques Mendes é o "ponta de lança" mediático do Governo: há uma concertação entre Passos Coelho e Marques Mendes. Como é que alguém pode acreditar que Marques Mendes está distante do Governo? Ele é o trunfo que Passos Coelho quer lançar mais tarde ou mais cedo. Parece, aliás, que há uma tríade entre o Governo, Marques Mendes e o jornal "SOL": o Governo dá a ideia; Marques Mendes anuncia - e o SOL desenvolve no dia seguinte. Esta tem sido a estratégia comunicacional mais consistente do Governo Passos Coelho. Marques Mendes, sem saber, já é membro do Governo. Retomando a gíria futebolística, é o 12.º jogador.

3. Este é o dirty little secret de Passos Coelho e Marques Mendes: todos já percebemos que há uma espécie de acordo tácito entre os dois. Resta saber para que cargo político. Minha convicção: ou é para membro do Governo, aguardando-se apenas pela melhor altura e esperando que Miguel Relvas saia por sua própria iniciativa; ou será para as eleições Europeias (Marques Mendes será cabeça de lista).


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Por último, refira-se que Marques Mendes não faz comentário político: o programa de Marques Mendes assemelha-se a uma sessão de terapia colectiva do PSD. Mendes aponta os erros do PSD, apela a sua consciência, para depois dizer o que vai ser feito. É um programa feito para o PSD, para as bases sociais-democratas. O que confirma que Marques Mendes está em força na política activa.