2.Vergonha é um termo demasiado forte? Não: é apenas realista. O único que espelha a realidade com exactidão. Sobretudo tendo em conta que a medida já tinha sido combinada entre Passos Coelho e Eduardo Catroga. Porque razão se teima em esconder a realidade aos portugueses? Passos Coelho reiterou várias vezes que não iria mexer nos impostos e a grande bandeira era a redução da despesa inútil do Estado. É eleito primeiro-ministro e a primeira decisão é o contrário daquilo que prometeu. Afinal, a redução da despesa do Estado, para a direita portuguesa, é apenas um cliché eleitoral. Ir ao bolso dos portugueses, estrangulando ainda mais a nossa economia, é fácil. Facílimo. Cortar na despesa do Estado, porque implica extinguir os tachos, os lugarzinhos para os boys, isso já é muito difícil. Demora muito tempo. Tem de ser gradual...É vira o disco e toca o mesmo: afinal, Passos Coelho continua a política de José Sócrates.
3. Um exemplo: a redução de ministros é um enorme embuste. Porquê? Porque a estrutura orgânica do governo mantém-se: os serviços são os meus, os funcionários são os meus, substituindo-se o ministro pelo secretário de Estado. Apenas isso. Mais nada. Um exemplo de que os vícios permanecem: Feliciano Barreiras Duarte, que foi avançado como braço-direito de Passos Coelho durante muito tempo, tinha de entrar para o Governo. Como já não havia lugar - até porque vários lugares tiveram de ser entregues ao CDS -, então inventou-se o cargo de Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e dos Assuntos parlamentares. Não, caro leitor, não se enganou a ler. É isso mesmo: Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares. Ora, o Ministro dos Assuntos Parlamentares tem dois secretários de Estado! Para quê? É uma singularidade ridícula deste governo...Alguma vez na vida o Ministro dos Assuntos Parlamentares precisa de dois secretários de Estado? Para quê? Pra concertar a actuação do executivo com o trabalho parlamentar são precisos três responsáveis políticos? Nunca na vida! A não ser que o Ministro Miguel Relvas esteja a admitir implicitamente que não percebe nada do assunto ou que não tem propriamente uma vontade imensa de trabalhar...O problema é que um governo que cria cargos desnecessários para meter gente do partido perde legitimidade moral para exigir sacrifícios aos portugueses. Neste particular, o início do governo Passos Coelho não tem sido famoso. Amanhã, falaremos de uma outra mentira obtusa deste governo.
Email: politicoesfera@gmail.com
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/passos-coelho-afinal-e-fa-de-jose-socrates=f659176#ixzz1zUaDCLIZ