Era uma vez um pomar.
Marcos Gomes |
Era uma vez as laranjas desse pomar. As laranjas desse eram
laranja por fora e pareciam sumarentas e doces.
Era uma vez uma laranja anciã que supostamente estava no
ramo mais alto da árvore. Essa laranja era responsável por moderar e aprovar
todos os procedimentos na laranjeira.
Era uma vez um conjunto de laranjas dessa mesma laranjeira
que a governavam. Havia a primeira-laranja, a laranja das finanças, a laranja
da economia, a laranja da educação, a laranja do ambiente, a laranja da saúde,
a laranja da solidariedade, a laranja das relações estrangeiras, a laranja da
defesa da do pomar e por fim a laranja adjunta que não servia para nada.
Algumas laranjas eram cristãs, e todas elas cresciam para a direita. Esta
laranjeira cresceu tanto que todas as outras espécies no pomar se sentiam
oprimidas e não apanhavam tanto sol como a laranjeira. Esta laranjeira crescia
inclinada para a direita. As outras espécies bem tentavam dialogar e negociar
um espaço de conforto para todos.
Contudo um agricultor veio e disse «Laranjas da minha
laranjeira, vocês tem de dar muito sumo, quer seja de laranja ou de outras
frutas». Um dia esse agricultor mando vir umsaco de adubo, e a laranja da
economia zangou-se com a das finanças porque ambas queriam controlar o adubo. A
primeira-laranja interveio, e decidiu que ambas podiam mandar no adubo, mas que
a laranja das finanças mandava mais que a outra.
Cada vez mais a laranjeira crescia sobre as outras espécies
do pomar e sempre mais inclinada à direita. A laranjeira já se curvava um pouco
para o chão.
Um dia uma das novas laranjas caiu. E atras delas outras se
seguiram. Algumas laranjas não mudaram de verde para laranja.
A Primeira-laranja ganhou bolor. As laranjas que governavam
ganharam teias de aranha. A laranja do ramo mais alto, certo dia acusou uma
rosa de não ser laranja, e insistiu nessa historia sem qualquer motivo
plausível. A rosa riu-se. A laranja do ramo mais alto estava podre e as suas
sementes já não funcionavam como outrora. A laranja do ramo mais alto estava caduca.
A laranjeira continuava a crescer cada vez mais inclinada para a direita.
Certo dia a laranjeira tanto se inclinou para a direita que
acabou por cair e deixar as outras espécies do pomar em paz e receberem o sol
que mereciam.
Marcos Gomes
JS Lousada
in: TVS