"Sou reformado. Não posso viver com estas condições. Recuso-me a procurar comida no lixo. Decidi terminar a minha vida"
Esta foi a última mensagem que Dimitris Christoulas um cidadão grego, ex-farmacêutico, deixou à sua pátria antes de se suicidar em frente ao Parlamento, sob forma de protesto contra um governo que, segundo ele, “aniquila as possibilidades de sobrevivência porque só se importa com o ajuste financeiro”.
Perante a violência de tal ato, demonstrativo do limite já ultrapassado com austeridade em cima de austeridade, o aviso é dado a Portugal.
A Crise não pode justificar tudo!
Estas questões são extremamente graves e põe em risco os limites do que é razoável exigir ao povo. Dia após dia, caminhamos a passos largos para uma situação de incumprimento social perante os nossos cidadãos e as noticias, infelizmente, não são animadoras perante o caminho que só visa o cumprimento do défice, que ainda assim não se avizinha nada fácil.
É claro que todos sabemos que temos um Governo “mais Troikista que a Troika” e aqui tudo muda de figura.
Uma coisa é o que a Troika nos exigiu e nos comprometemos a cumprir, outra é ir além disso e aproveitar esse facto para elaborar um plano ideológico de aniquilação do papel do Estado.
Sabemos hoje que temos um Primeiro-Ministro que assume que estas medidas eram necessárias e que contavam com o seu apoio, mesmo que não estivéssemos sob supervisão do FMI (o que em abono da verdade não deixa de ser preocupante), mas diariamente reparamos nas contradições de múltiplas medidas que só tem um denominador comum – austeridade.
Ainda assim, existem medidas acertadas e de extrema necessidade mas outras revelam o carácter e as intenções de destruição do Estado Social de quem nos governa.
Os cortes no pagamento do transporte não-urgente de doentes é um dos sinais mais evidentes da diferenciação que se quer implementar em Portugal. Quem tem dinheiro recebe tratamento porque paga, quem não tem, fica entregue à sua sorte.
Pois bem, como nem todos têm dinheiro para pagar planos de saúde privados, exemplos destes surgem diariamente, nomeadamente nos Hospitais e Bombeiros – as pessoas estão a deixar de frequentar os tratamentos porque não tem como liquidar os tratamentos e o transporte! Espanta que até nisto, se quisermos ver por uma perspetiva meramente económica “sai pior a emenda do que o soneto”. É bem mais dispendioso ao Estado tratar das pessoas à posterior ou seja, quando não há nada a fazer para solucionar um problema grave de saúde, do que comparticipar os tratamentos das pessoas quando pode haver retrocesso.
Os casos surgem diariamente. O último foi denunciado pelo Presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos, referindo que há pessoas com cancro, a faltar aos tratamentos porque não têm como pagar um transporte de ambulância, existindo outras que só têm dinheiro para pagar a ida para o hospital e depois não tem como regressar a casa.
Outra situação, surgiu há duas semanas. O Estado recusou-se a pagar ao IPO do Porto 7,5 Milhões de Euros gastos em tratamentos de quimioterapia, porque a medicação dada “foi feita em comprimidos e não em injetável” tal como estava no contrato programa. Revertendo as questões técnicas e acordadas para segundo plano, é realmente curioso como assumimos as despesas integrais e abismais do BPN para vendê-lo “limpinho” ao BIC de Mira Amaral, e recusamos o pagamento de tratamentos de quimioterapia.
Cerca de 8000 milhões de euros dariam para pagar quantos tratamentos?
É necessário haver rigor e concertação, mas muita ponderação e humanismo. Principalmente nos dias que correm, porque o “Mudar” e a “política de verdade” de Passos Coelho foi-se com o vento.
Nelson Oliveira
Presidente da JS Lousada
in: TVS