O dia negro do ministro que parecia diferente

Ontem foi um dia negro para o Governo. Mas foi sobretudo um dia negro para os portugueses.

Creio mesmo poder dizer que o dia de ontem marcou o início de uma nova etapa no relacionamento dos portugueses com o Governo.

É que ontem o País viu, nas televisões, o ministro que personificava o rigor, a seriedade, a capacidade técnica e o saber, revelar-se, afinal, um manipulador, incapaz de reconhecer que nos enganou, nos mentiu e nos ocultou deliberadamente que o 13.º e 14.º meses só regressarão (se regressarem) em 2015.

Desculpou-se com um “lapso” e chamou-nos implicitamente tolos, gozou connosco, riu-se desbragadamente perante os deputados como se fossem seus “subditos”.

Até o seu colega, ministro dos Assuntos Parlamentares, sentado ao seu lado no Parlamento, olhou para ele, incrédulo, à espera de ouvir o que sairia dali…

Falo de Vítor Gaspar, o ministro que parecia diferente e me despertava até alguma “ternura”, pelo seu ar de “gato assustado”, as olheiras de quem não dorme, a testa enrugada qual pensador, o cabelo espetado em ar de cientista “amalucado”, as conferências de imprensa de voz lenta, pastosa e repetitiva…perante jornalistas seduzidos por aquela figura rara e desarmante.

Afinal, ele mostrou que embora não pertencendo à “raça” dos políticos (de quem os tecnocratas como ele esperam sempre algumas inverdades ou mentiras deliberadas), foi capaz de fingir despudoradamente, assim destruindo a sua credibilidade e a do Governo (já que sabemos que é ele quem manda).

Mais grave, destruiu a possibilidade de encontrar neste governo uma referência de rigor e de verdade.

Não lhe perdoo a desilusão que me causou porque eu queria acreditar nele… 

in: vai vem