Não são os Ricos que criam emprego, Sr. Primeiro-Ministro!


Nelson Oliveira

Com este título não pretendo qualquer introdução a um tipo de pensamento radical, até porque esse é um caminho que não me agrada. A frase é do multimilionário Nick Hanauer, durante uma conferência TED, como forma de contrariar o que o capitalismo dominante na América postula.

Em apenas 5 minutos de discurso, Hanauer desconstruiu de forma genial e simples, uma das maiores crenças que sempre existiu na América e que infelizmente está agora a vingar na Europa - “os Estados devem baixar impostos às grandes empresas para que estas promovam a criação de emprego”. Nada mais falso.

A criação de emprego gera-se a partir de uma relação simbiótica e perfeita entre os consumidores e os produtores. Assim, existe uma verdade inquestionável - É o consumo que cria empregos e não as empresas ou os vulgarmente conhecidos como “ricos”.

Nenhum denominado “rico” consegue comprar o número suficiente de produtos para fazer funcionar uma economia, por muito dinheiro que tenha. Até pode comprar quatro ou cinco carros topo de gama, mas não compra 500 mil de gama média! Pode ir todos os dias ao restaurante, mas não enche diariamente todos os restaurantes da cidade!

Ora se é classe média e o seu consumo que faz movimentar a economia, não se percebe a razão de ser sempre esta classe, inundada de impostos, reduções de salários ou despedimentos colectivos.
Não se percebe por isso, que tipo de economistas temos à frente do país. Será que não conseguem ver que a baixa da TSU só resultará para as grandes empresas dominantes ou exportadoras? Que o grosso das PMEs movimentam-se no mercado interno e por isso só lhes interessa o poder de compra dos Portugueses? Que o aumento das contribuições para a Segurança Social irá resultar na diminuição do salário, retracção do consumo, decréscimo das vendas das empresas e consecutivamente aumento do desemprego?

O maior incentivo que podemos dar, é fazer com que haja um menor fosso entre as classes. Que a classe média e maioritária, consiga, apesar de tudo - Consumir.

Não se pode ser forte com os fracos e fraco com os fortes. Não se pode ter um discurso ao país em que se é duro com a classe média e tocar levemente, deixando para segundo plano, quem ainda não foi chamado a contribuir para pagar a crise. Não se pode ter um discurso hoje e amanhã outro, como é recorrente nos sucessivos governos.

Pior que observar as sucessivas contradições de Passos Coelho, sobre o que dizia antes e aplica agora, é vermos, por exemplo Vitor Gaspar, dizer a 17 de Outubro de 2011 que a redução da TSU é algo que só resulta nos livros da faculdade e não no país real. E agora?

O mesmo Nick Hanauer referiu que: “A única coisa que resulta para recuperar o emprego, é taxar a sério os ricos como eu. Só assim conseguiremos que a classe média ascenda, compre os meus produtos e consequentemente continue a dar-me lucro para eu ganhar muito mais dinheiro”.

É insustentável, existirem pessoas que com estas medidas, trabalhem no duro, e levem para casa 380 euros de salário liquido. Insustentável e inaceitável. O povo já saiu à rua, já demonstrou o desagrado e nunca a opinião geral de um país foi tão unânime acerca deste caminho de austeridade pura e dura.

Deixemo-nos de uma vez por todas de brincar às eleições. O Governo que faça de uma vez por todas aquilo para que foi mandatado – defender os interesses da população. Foi para isso que foi eleito!

Nelson Oliveira
in: TVS