Imigra, Emigrante...


Artur Coelho

A madrugada fria e escura abraça a curta viagem que se torna claramente longa demais. São três os que hoje lidam directamente com a obrigação de não poderem permanecer juntos. 

São estes três, os outros dois, os outros quatro e no fim da repetição somos nos todos e não escapa nenhum. "É bom, é melhor, é o mais lógico e assertivo" dizem eles sem memória da dor que outrora também sofreram. Somos jovens, crescemos juntos e apartamos a nossa união por um país que nos quer cá mas que não nos consegue manter. É isso que nos dizem, é isso que dizem aos desempregados, aos abandonados e aos menos afortunados. 

Basta! O país quer, o país pode e o país não vai chorar mais! Abandonamos as guerras além-mar e as travessias clandestinas, já não são precisas, o mundo vive em paz, a Europa é uma união e os filhos podem ficar em casa! Exportemos o que produzimos, não o que somos. Ou alguém já viu uma fábrica ficar com a produção e vender os funcionários? E a apatia? Não podemos vender essa âncora que nos inibe de gritar pelos direitos que nos privam. 

Essa, não querem eles exportar, cultivam-na nos que por cá ficam, é uma nova forma de controlo. Se a ignorância em tempos foi força, hoje a apatia tomou o seu lugar.

Artur Coelho
JS Lousada
in: TVS