1. Com que objectivo o sr. Presidente da República escreve aquele prefácio nos seus "Roteiros"?
Para quê abrir feridas antigas que apenas servem para dividir mais os portugueses?
Que tipo de incómodo ainda lhe provoca José Sócrates?
Será que não sabe que José Sócrates e o antigo Governo já foram julgados pelo eleitorado?
Desconhecerá que nas suas funções não estão incluídos julgamentos morais?
Lealdade institucional?
Será o sr. Presidente capaz de dizer que foi sempre leal com o antigo Governo?
De que tipo de lealdade ou mesmo de dignidade estamos a falar quando se ataca alguém que está afastado da vida política e que não se pode defender?
Que diria se o Presidente da República na altura em que deixou de ser primeiro-ministro o viesse julgar na praça pública?
A que propósito um Presidente em plenas funções faz balanços sobre as qualidades pessoais ou políticas de antigos primeiros-ministros?
Terá esquecido as suas funções, a sua dignidade institucional?
Não, não pode ser. Cavaco Silva não pode estar a transformar-se numa caricatura dos colunistas que ficaram sem assunto quando Sócrates desapareceu da vida pública e que subitamente deixaram de escrever ou falar sobre política para se dedicarem a assuntos "mais elevados".
Não, o Presidente da República não pode estar a pensar em concorrer com pasquins que descobriram que a simples menção do nome Sócrates lhes faz subir as vendas, mesmo que seja preciso mandar às malvas as mais básicas regras da decência e que confundem jornalismo com insídia e desprezo pelos mais simples direitos de personalidade.
Não, Cavaco Silva não pode estar a pensar que ao pôr em causa o antigo primeiro-ministro compra alguma simpatia do actual Governo, numa altura em que as relações entre Passos Coelho e ele estão tão debilitadas, para ser austero nas palavras, e em que é notório que as soluções advogadas pelos dois não podem ser mais díspares. Passos Coelho estará até a pensar nos "Roteiros" do Presidente quando deixar de ocupar São Bento...
Não, o Presidente da República não pode imaginar que tirando o esqueleto de Sócrates do armário faz esquecer episódios como o das pensões ou o das escutas. Nós até estávamos dispostos a esquecer esses dislates, mas era por propósitos bem mais altos e bem mais importantes.
Não, Cavaco Silva não pode estar a embarcar na nau dos infelizes que é capaz de culpar Sócrates pela chuva na eira ou pelo sol no nabal.
Não, não é possível que o nosso representante desça a esse nível.Mas, afinal, que objectivo quis o Presidente da República atingir com aquele texto ressabiado a tresandar a ajuste de contas?
Não servirá, de certeza absoluta, para gerar consensos e unir os portugueses; não servirá para dignificar o papel institucional da Presidência da República, que não se coaduna com queixinhas e ataques a pessoas que lideraram, bem ou mal, o País; não dará peso político e respeitabilidade a quem vai ter de liderar o processo político quando, infelizmente, a crise económica degenerar em crise política; não ajudará o Governo que precisará do Presidente para mediar conflitos entre os partidos e parceiros sociais.
Bom, conseguiu unir o PS, que pela primeira vez em muito tempo aparece a falar a uma só voz, mas a única coisa, pelos vistos, que agora agrega os socialistas é a indignação contra Cavaco Silva.Só há uma explicação, e bem humana, para mais um infeliz momento do Presidente da República: há quem não domine os ódios e os rancores pessoais.
Pensar que há apenas uma semana pedia, neste mesmo espaço, para que o Presidente não voltasse a desiludir...
2. O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público obteve o patrocínio de várias instituições financeiras para a realização do seu Congresso.Francisco Proença de Carvalho, na sua página do Facebook, resumiu exemplarmente a situação e a sua gravidade.
Escreveu o advogado: "Se o sindicato do Ministério Público lhe pedisse um patrocínio, recusava?"
Como disse João Palma ao Expresso sobre investigações que não deram em nada: pois...
Pedro Marques Lopes
in: DN