Prof. Eduardo Vilar |
Decorre de 25 de abril a 1 de maio, a 12.ª edição do Festival de Artes do Espetáculo, (Folia). Em entrevista ao TVS, o vereador da Cultura, educação, desporto, novas tecnologias e comunicação da Câmara Municipal de Lousada, Eduardo Vilar, destacou as novidades do cartaz deste ano que apesar da redução do número de espetáculos mantém a qualidade. Uma das novidades do certame deste ano vai para a possibilidade dos visitantes poderem adquirir um bilhete único por apenas 20 euros para os todos os espetáculos. Em palco vão estar os Adiafa, Maria do Céu Guerra, Teatro de Montemuro, Peripécia teatro, Teatro das Beiras, Jangada e a Companhia do Chapitô. Num programa pós-Folia, destaque ainda para os recitais de piano de Marta Moreira e João Xavier.
De 16 a 24 de abril tem lugar o Foliazinho, com vários espetáculos para os mais novos e onde se destaca a peça da Jangada Teatro em coprodução com o Pé de Vento, o Teatro Extremo, os Clever Pants e a Porta 27, num original trabalho, encenado por Sara Barros Leitão, intitulado "Era uma vez uma princesa".
TVS: Quais as principais novidades do Festival de Artes do Espetáculo (Folia) para este ano?
Eduardo Vilar: O Folia consolidou-se ao longo destes 12 anos e constitui uma mostra muito representativa, não necessitando, propriamente, de muitas novidades. Este ano, devido à difícil conjuntura financeira, diminuímos o número de espetáculos, mas a qualidade permanece intocável. O festival deste ano coincide, também, com a inauguração de todo o reapetrechamento técnico do auditório municipal, num investimento comparticipado em 80% pela União Europeia, e assinala, ainda, o início das comemorações de um ciclo histórico muito representativo na vida local: 170 anos de elevação de Lousada a vila, 175 anos de restauração do concelho e 500 anos de outorga do foral.
TVS: Qual o número de espetadores previstos?
EV: Esperamos casa cheia em todos os espetáculos.
Companhias e artistas consagrados no Folia
TVS: Quais as companhias e os grupos que vão estar em Lousada e quais os que mais destacaria?
EV: Teremos os Adiafa, Maria do Céu Guerra, Teatro de Montemuro, Peripécia teatro, Teatro das Beiras, Jangada e a Companhia do Chapitô. Num programa pós-Folia, ainda teremos os recitais de piano de Marta Moreira e João Xavier.
Mas convém não ignorar o Foliazinho, de 16 a 24 de abril, com diversos espetaculos para os mais jovens.
TVS: Está previsto o regresso do cinema ao festival?
EV: Não. Considerando que os dias de cinema não constituíam um cartaz muito atrativo, e por critério de programação, atendendo, também, ao menor número de dias do Festival, decidimos não integrar as sessões de cinema.
TVS: O preço dos bilhetes vai manter-se ou estão previstas subidas?
EV: O bilhete diário vai custar 4 euros, mas com 20 euros haverá possibilidade de assistir a todos os espetáculos.
TVS: A atual conjuntura económico-financeira e a escassez de recursos das autarquias condicionaram a elaboração deste festival?
EV: Sim, sem dúvida. Tivemos que ser ainda mais rigorosos, mas a qualidade foi sempre salvaguardada.
TVS: Qual o orçamento previsto para a edição de 2012?
EV: A organização é conjunta com a Jangada Teatro, que também conseguiu captar apoios da Direção Geral das Artes. É um orçamento muito baixo, sobretudo considerando o nível da programação e a notoriedade dos agentes envolvidos.
TVS: Quais eram as suas expetativas quando assumiu a função de vereador? Conseguiu atingir os objetivos a que se propunha?
EV: Quando fui eleito vereador, em 1989, Lousada não dispunha de nenhum equipamento cultural. Mesmo assim, o meu antecessor, senhor professor Fernando Trigo, fez um trabalho muito meritório, atendendo aos condicionalismos existentes. A preocupação foi criar infraestruturas, daí resultando o auditório municipal, a biblioteca, o espaço artes e o conservatório de música, este em parceria com a Associação de Cultura Musical. No entanto, ao mesmo tempo, foi incrementada uma dinâmica muito intensa, traduzida na criação do Verão Cultural, na realização de exposições, concertos e em sessões de teatro para as escolas e na publicação de livros. Foi um trabalho que frutificou porque parte substantiva dos públicos trabalhados nessa época são exatamente aqueles que aderem agora, mais espontaneamente, às iniciativas culturais. Foi um caminho longo, paciente e estrutural, de serviço educativo e de grande alcance sociocultural. A instalação de uma companhia profissional de teatro, cujo notável trabalho importa sublinhar, a dinâmica do Conservatório Vale do Sousa, com uma missão admirável e insubstituível, a criatividade de muitas associações e comunidades educativas, o aparecimento de novos talentos artísticos e a visibilidade de muitos projetos resultaram, precisamente, dessa prioridade estabelecida pelo município. Portanto, quando Lousada é apontada como referência, importa sublinhar todo o itinerário percorrido, sem o qual o presente teria sido inviável.
TVS: O Folia já assumiu a sua maioridade? Na sua ótica, este festival rivaliza com os melhores que existem no país no que toca às artes do espetáculo?
EV: Não queremos ter o pretensiosismo de afirmar que somos os melhores, porque nem sequer é isso que está em causa. No entanto, o Folia tem muita qualidade e dignifica muito o concelho, a região e a cultura.
TVS: Considera que este certame é ou pode ser um motor para o desenvolvimento cultural e económico do concelho? Defende que o certame cresça e adquira uma maior visibilidade?
EV: A cultura e o turismo são vetores muito importantes, pelos quais pode e deve passar uma estratégia de desenvolvimento. Para o festival crescer mais, são necessários recursos financeiros que atualmente não dispomos.
TVS: Considera que Lousada necessita de um novo auditório? O município tem recursos e viabilidade económica para construir um novo equipamento?
EV: Lousada dispõe do melhor auditório da região, que, como referi, beneficiou de obras de reequipamento técnico, nomeadamente a nível de mecânica de cena, de sistema de som e de iluminação, bilheteiras eletrónicas, piano e outras valorizações, que o tornam num recinto cultural preparado para receber espetáculos de artes do palco sem o recurso a contratação de equipamento externo. Além disso, tem acolhido importantes produções nacionais sem deixar de apoiar, acarinhar e dar visibilidade ao trabalho das escolas, associações e outros agentes culturais do concelho. Salvo em casos muito pontuais, a lotação é suficiente para os projetos realizados. Quando a procura é maior, há sempre a possibilidade de desdobramento das sessões, para contemplar uma presença mais alargada de público. Portanto, nem há necessidade, nem existem condições financeiras para um novo equipamento.
TVS: Na sua opinião existe uma verdadeira política cultural no Vale do Sousa?
EV: O Vale do Sousa reúne muitas potencialidades que justificariam uma abordagem mais completa, e a cultura é um desses setores. É um campo ainda a aprofundar, como vários outros. Da nossa parte temos desenvolvido alguns contactos, nomeadamente com Felgueiras e com Paredes, no sentido de rendibilizarmos alguns investimentos e creio que, muito brevemente, poderemos ter resultados encorajadores.
TVS: Defende a construção de um centro de interpretação da Rota do Românico? Considera-o um instrumento vital para a promoção da Rota e para a projeção cultural do município?
EV: A Rota do Românico constitui um dos projetos mais relevantes do país e um elemento decisivo para afirmação da região. A criação de um centro interpretativo representa, pois, mais um passo determinante nesse sentido, sempre com o mérito e a capacidade empreendedora da Dr.ª Rosário Machado. Mas evidencia, igualmente, o magnífico entendimento com a Câmara de Lousada, já manifesto em muitas outras ocasiões. Ao cedermos os terrenos numa área nobre da vila reconhecemos a importância de promover as potencialidades endógenas, numa combinação frutuosa entre a cultura, o património e o turismo.
Cultura acessivel a todos
TVS: Quais as grandes linhas de aposta para a cultura deste concelho?
EV: Criar condições para uma maior democratização, a fim de todas as pessoas terem acesso às iniciativas e a desenvolverem elas próprias projetos culturais. É um processo permanente, que apela ao exercício da cidadania e à participação democrática. Temos procurado, também, corresponder aos diferentes gostos e sensibilidades artísticas, assegurando um leque variado de eventos. Estamos, também, atentos à descentralização, de que são exemplos recentes os concertos do Festival Harmos (que reúne os melhores músicos das melhores escolas superiores de música da Europa), que entendemos orientar para Nevogilde e para a Senhora Aparecida. Concertos corais e instrumentais e sessões de teatro também têm sido encaminhados para vários pontos do concelho, para além de estarmos sempre recetivos para colaborar com os agentes locais na promoção de diversos tipos de realizações. Outra das nossas apostas é o respeito pela nossa identidade cultural. Nesse aspeto, as parcerias com os grupos etnofolclóricos - de que as jornadas recentemente realizadas foram um belo testemunho - e com outras organizações locais têm sido preponderantes. Mas devemos, também, salientar o importante trabalho desenvolvido no âmbito da Arqueologia e do Património, quer pelas investigações realizadas, quer pela publicação dos resultados alcançados, e pela biblioteca municipal pelo seu grande dinamismo. Mas as várias associações culturais do concelho desenvolvem, igualmente, um trabalho muito construtivo.
TVS: Lousada está mais apetecível em termos culturais?
EV: Todos reconhecem que não há dia sem animação cultural. É sempre possível assistir a um concerto ou a uma sessão de teatro, visitar uma exposição, acompanhar dinâmicas de leitura, conhecer a mais recente edição da autarquia ou integrar-se numa rota cultural ou turística.
Os tempos mais próximos serão também muito interessantes. Com o ciclo comemorativo da história de Lousada, iremos ter um programa muito sugestivo entre 2012 e 2014: recriações históricas, animação de rua, espetáculos, exposições, conferências, edições de obras e visitas guiadas.
O Centro Interpretativo da Rota do Românico será um contributo decisivo para a afirmação cultural do concelho, mas teremos, igualmente, o Museu do Cinema de Animação, único no país, a instalar na Casa de Vilar.
Portanto, a cultura em Lousada continuará a ser uma área prioritária.
Autor: Miguel Ângelo (in: TVS)