Quinta-feira,
13 de Outubro de 2011, são 19h40 e decido terminar mais cedo o trabalho
no escritório. Reforço o stock de tabaco no quiosque da minha rua,
entro no carro e sigo para casa. A viagem é curta, pelo que,
contrariamente ao normal, desta vez chego mesmo a tempo de ver o
noticiário das 20h00.
Poucos
minutos depois Passos Coelho, sem o ter convidado, decide entrar em
minha casa e oferecer-me um longo e assustador monólogo. Educado como
sou, ouvi-o atentamente até ao fim. 20 minutos depois foi-se embora e
deixou como prenda o mais violento e impensável orçamento de Estado de
que há memória. Apesar das minhas tentativas, Passos Coelho não se
disponibilizou para ouvir o que eu também tinha para lhe dizer. Sorte a
dele. É verdade que não votei no PSD, mas tal não limita o meu direito à
indignação. Depois de tudo o que este senhor disse aquando da
elaboração do orçamento para 2011, depois do chumbo do PEC IV e
consequente queda do anterior governo, Passos Coelho atirou para a
sarjeta o voto de confiança que muitos portugueses nele depositaram.
Não
caio na desonestidade intelectual com que este senhor e seus acólitos
durante muitos meses enganaram os portugueses, excluindo do debate
político a grave crise financeira que a Europa atravessa. Sei bem que,
fosse qual fosse o governo, medidas duras e difíceis teriam de ser
tomadas. Mas, como em tudo na vida, há limites. E estes senhores
ultrapassaram todos os limites da decência. O fim dos subsídios de
férias e de Natal e a obrigação de todos os trabalhadores darem, de
borla, 2,5 horas semanais às empresas, é um ultraje. Se a vergonha
pagasse imposto, o actual governo, sozinho, conseguiria fazer reduzir o
défice para 0% do PIB!
Face
à maioria absoluta que os portugueses deram à coligação PSD/CDS e tendo
em conta que na Presidência da República jaz alguém cujo único
objectivo passa por tramar a vida de todos quantos ousaram falar da sua
ligação à trafulhice do BPN, a verdade é que aos portugueses resta
apenas o protesto. Infelizmente de pouco deverá adiantar, pois com a
implementação das medidas ora anunciadas, dentro de um ano Portugal
estará um caco. A redução do PIB será brutal e o desemprego crescerá de
forma violenta. Assim sendo, de nada adiantará este grotesco sacrifício
imposto aos portugueses. A tragédia grega, na versão lusitana, essa
segue dentro de momentos.
Paulo Ferreira
in: Verdadeiro Olhar