"Domingo
à noite, no fim da noite eleitoral, disseram-me que alguém arremessara
very lights para a porta do DN Madeira. Passei lá pouco depois, mas
parecia tudo normal.
Quando voltei ao hotel, porém, encontrei a notícia
no site do DN M, datada das 22.05, com vídeo e tudo: tinham sido
lançados três very lights, acompanhados de cânticos guerreiros - "Nós só
queremos ver/o Diário a arder" e "Filhos da puta olé" - , aquando da
passagem de uma caravana da JSD/PSD (que incluía o presidente da
juventude do partido, eleito deputado) pelo edifício do jornal.
Adormeci
convencida de que no dia seguinte haveria mais notícias sobre o caso, o
qual, a confirmar- -se, não poderia deixar de suscitar generalizada
indignação - afinal, este é o país onde toda a gente se preocupa com a
liberdade de expressão e informação, certo? E uma ameaça/ataque deste
tipo a um jornal, vinda de um partido, não se vê, que me lembre, desde
1975.
A meio da tarde, porém, quando já em Lisboa dei uma volta nos
sites noticiosos, nada encontrei. Fosse uma caravana de um clube de
futebol a atacar um título desportivo e todos os telejornais abririam
com directos do local. Mas neste caso os acusados são só "adeptos" de um
partido - por acaso o que governa, quer nessa região quer no País. Uma
coisa sem importância nenhuma, portanto.
"Isto que se passa aqui
também é culpa vossa, dos jornalistas do Continente", disse-me um
jornalista madeirense, durante a minha semana de reportagem. "Vêm cá de
dez em dez anos e depois nunca mais falam disto." Tão verdade: ontem a
Madeira já era "assunto de rescaldo", como se diz dos incêndios
extintos. Mesmo que estivesse em causa uma ameaça de fogo posto, olé."
Fernanda Câncio
in: DN