Como escrevi aqui, o embuste do desvio serve como pretexto para o governo justificar a necessidade de ir (muito) para além da troika, transformando aquilo que é uma escolha poítica deste governo numa necessidade criada pelo anterior. Estamos, pois, perante uma estratégia típica de desresponsabilizaçao. Perante isto, várias pessoas me têm perguntado por que razão é que este governo se prepara para tomar medidas que podem, afinal, não ser necessárias? A resposta é simples. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, pessoas com a mesma informação não chegam necessariamente às mesma conclusões. Um juízo sobre a necessidade de determinadas medidas não é uma questão técnica passível de determinação objectiva; é, isso sim, uma questão eminentemente política. Ao não assumir esta responsabilidade (isto é, ao apresentar estas medidas como objectivamente - e não subjectivamente - necessárias) o governo está, portanto, a tentar despolitizar a discussão sobre as medidas que constam do orçamento para 2012.
O governo (leia-se Vítor Gaspar) acha que não deve correr riscos, e por isso decidiu reforçar a dose de austeridade. O que o governo se esquece é que ir (muito) para além da troika não pode ser vista como uma simples questão de prudência. Hoje (quase) todos reconhecem que a austeridade tem custos. Se dúvidas houvesse, a Grécia e o arrefecimento da economia europeia estão aí para o provar. O governo tem todo o direito de fazer a sua própria avaliação dos riscos. Mas essa avaliação é sua e de mais ninguém. Se isto fosse assumido de forma plena, sem recorrer a subterfúgios manhosos, ganhavamos todos, e Vítor Gaspar teria a oportunidade de, finalmente, aparecer como aquilo que orgulhosamente é: um defensor convicto das virtudes da austeridade e alguém que acha Portugal só conseguirá sair da crise através de uma política de deflação radical dos salários. Resta saber se Relvas está disposto a correr este risco. Tudo indica que não.
O governo (leia-se Vítor Gaspar) acha que não deve correr riscos, e por isso decidiu reforçar a dose de austeridade. O que o governo se esquece é que ir (muito) para além da troika não pode ser vista como uma simples questão de prudência. Hoje (quase) todos reconhecem que a austeridade tem custos. Se dúvidas houvesse, a Grécia e o arrefecimento da economia europeia estão aí para o provar. O governo tem todo o direito de fazer a sua própria avaliação dos riscos. Mas essa avaliação é sua e de mais ninguém. Se isto fosse assumido de forma plena, sem recorrer a subterfúgios manhosos, ganhavamos todos, e Vítor Gaspar teria a oportunidade de, finalmente, aparecer como aquilo que orgulhosamente é: um defensor convicto das virtudes da austeridade e alguém que acha Portugal só conseguirá sair da crise através de uma política de deflação radical dos salários. Resta saber se Relvas está disposto a correr este risco. Tudo indica que não.
João Galamba
in: Jugular