Depois do Presidente da República ter dito que a Troika talvez se
tivesse excedido nas medidas para a banca, vem António Borges,
responsável do FMI para a Europa (superior hierárquico do Poul Thomsen),
em artigo publicado na revista Exame, dizer que cumprir o que está
estipulado no memorando terá consequências dramáticas para a economia
portuguesa:
Infelizmente, é impossível praticar uma desalavancagem rápida sem criar o colapso da economia. Precisamos, portanto, de tempo. Por exigência do Banco Central Europeu, os bancos muito dependentes do seu financiamento teriam de rapidamente procurar outras fontes de financiamento. O Banco de Portugal traduziu esta exigência num objectivo de redução do rácio crédito/depósitos para 120%. As consequências deste objectivo são dramáticas
O Banco de Portugal não gostou, e respondeu o seguinte:
O Banco de Portugal esclarece que, no quadro do programa de assistência financeira a Portugal, negociado com a Comissão Europeia, o BCE e o FMI, ficou estabelecido que os oito maiores grupos bancários deverão reduzir gradualmente o respectivo rácio crédito/depósitos para um nível de 120 por cento até 2014. A título de comparação, refira-se que, no caso do programa de assistência à Irlanda, ficou estabelecido que o rácio crédito/depósitos se reduzirá para 122.5 por cento até ao final de 2013, o que traduz um ajustamento mais acentuado, tendo em conta que o ponto de partida era substancialmente mais elevado do que o dos bancos portugueses
Assumindo que António Borges não está a agir por conta própria,
parece que temos o FMI a dizer que a austeridade é boa, sim senhor, mas
que deve ser selectiva (i.e. só para o Estado), e o Banco de Portugal (e
o BCE) a dizer que não, que o que é preciso é austeridade para todos,
incluindo a banca. Talvez fosse interessante saber o que pensa o governo
português desta matérias e, já agora, se tenciona participar neste tipo
de debate.
João Galamba
in: jugular