A Culpa


Hoje sabemos, por intermédio do Ministro das Finanças que o governo “não mente, não engana e não ludibria”. Por muito que nos custe acreditar nestas palavras, perante o que assistimos e sentimos dia após dia, continuamos a ver um argumentário baseado na alegada “política de verdade” pelos intervenientes de sempre. O problema é que se formos a esmiuçar todos as “verdades”, as folhas deste jornal, não chegariam para desmantelar tal teoria.

Atribuímos culpas sem querermos ultrapassar obstáculos, preferimos “caçar bruxas” ao invés de enveredar por um caminho sólido e coerente, e por isso, é com agrado que partilho uma descrição que o ex-deputado do PSD – Pacheco Pereira (“Abrupto”) faz acerca do modo de pensar dos responsáveis políticos que lideram Portugal; cito:

“Ser pobre é uma culpa
(Significa não ser competitivo, ser preguiçoso, depender dos subsídios, explorando as novas gerações e hipotecando o seu futuro.)
Ser funcionário público é uma culpa.
 (Viver a expensas dos contribuintes.)
Ser desempregado é uma culpa. 
 (Não ser competitivo no mercado de trabalho, não se ser “empreendedor”.)
Ser desempregado de longa duração é uma culpa. 
(Sinal de preguiça e não-“ajustamento”. Condição sensível à “pieguice”.)
Ser desempregado com mais de quarenta anos é uma culpa. 
(Não se ter “adaptado” a tempo. Condição sensível à “pieguice”.)
Ser desempregado com vinte anos é uma culpa. 
 (Não ter escolhido uma formação com “empregabilidade”.)
Ter estudado História, Filosofia, Literatura, Sociologia, “Humanidades” é uma culpa. 
(Escolher ser não-empregável.)
Exercer os seus direitos legais à reforma é uma culpa. 
(Significa pensar que se tem direitos quando não se tem nenhum. As carreiras contributivas para a segurança social são mais úteis para controlar o défice.)
Ter nascido entre 1940 e 1950 é uma culpa. 
(Fazer parte da geração maldita dos anos sessenta que tem todas as ideias erradas.)
Ter nascido entre 1950 e 1960 é uma culpa. 
(Fazer parte da geração maldita dos anos setenta, a segunda em perigosidade depois da dos anos sessenta.)
Estar vivo e adulto em 2012 é uma culpa.
(Viveu-se “acima das suas posses”.)
Duvidar do modo como somos governados é uma culpa. 
(Ser-se “socratista” ou “velho do Restelo”.)
Viver mais do que sessenta e cinco anos é uma culpa
(Ameaça à segurança social por via das reformas.)
Estar vivo no 25 de Abril de 1974 é uma culpa. 
 (Veja-se este comunicado da JSD:  “”o sucesso da marca do 25 de Abril e da conquista da democracia será tanto maior quanto menos depender dos agentes da mudança de 1974..”)
Não pensar que o 25 de Abril é uma “marca”, é uma culpa. 
(Sinal de “corporativismo” a favor de uma marca duvidosa.)
Não ter uma família rica é uma culpa. 
 (Significa que os pais e os avós já não foram competitivos, genética errada.)
Ser sindicalizado é uma culpa. 
(Fazer parte das forças do bloqueio antiquadas que resistem ao “ajustamento”.)
Viver fora de moda é uma culpa. 
(Significa não querer ser competitivo.)
Ter direitos sociais é uma culpa. 
 (O que é bom é ser-se contra os direitos, em particular quando a família é rica.)”
in: abrupto (5/5/2012)


Nelson Oliveira
Presidente da JS Lousada
in: TVS