CORTAR O MAL PELA RAÍZ

Hélder Leal
Como é sabido, a fim de cortar com a despesa orçamental, o nosso governo optou por suprimir gastos, em várias áreas da nossa estrutura social, entre os quais, saúde, cultura, desporto, educação, entre muitas outras, é sensato acreditar que sim, que de facto há onde poupar uns milhões…mas não se poderá cortar onde realmente se deve?... isso seria outra conversa, fazendo me entender.

As políticas adoptadas são extremamente objectivas, chegando a pontos de poderem considerar desumanas, particularmente na área da Saúde.

Estes cortes, fazem parecer o estado social uma miragem de outrora, uma visão do passado.

A expressão “cortar o mal pela raiz”, é sempre conotada de forma positiva no nosso país, mas na realidade, não é bem assim, esta expressão nada tem de positivo, ou seja, enquanto se cortam raízes, o país não cresce, tal e qual uma planta que ao cortarmos a sua raiz ela automaticamente não cresce, logo, morre, salvo milagre, que é exactamente o que o nosso governo parece estar à espera…de um autêntico milagre!

Ora, no caso da educação, a irresponsabilidade deste governo é vergonhosa, se a educação não é o bem mais precioso de uma qualquer sociedade desenvolvida, ela fica bem próxima disso.
Tal como dizia, o saudoso Fialho de Almeida que “Instruir, Salubrizar, Enriquecer,…nenhuma obra de governo forte pode assentar sobre aquisições que não sejam as derivadas próximas destes postulados máximos extremos”

A própria História sempre ditou que para um país crescer e evoluir são precisas elites preparadas, instruídas, motivadas, e é exactamente o contrário que tem acontecido! Com isto, não se pense, que um diploma de fim de curso basta! Não! As pessoas necessitam de uma injecção de educação social e moral! Quantas vezes ouvimos na comunicação social que fulano tal desviou uns milhões, e de seguida ouvimos um comentário de alguém dizendo, “ai e tal, o tipo é esperto pah”…ao ouvirmos isto não depreendemos logo das suas palavras que ele no lugar do gatuno faria exactamente o mesmo?...mais uma vez evoco aqui  Fialho que no séc. XIX disse um dia que quanto mais se faz na lei e se espargue nas instituições a democracia, mais os homens procuram exceder as condições do seu nível e sotopor a modéstia real da sua existência a uma ilusão de grandezas, ou seja, ascende-se na escala, e cada vez são mais vivas as desproporções entre as exigência das sumptuária exterior e os desmazelos íntimos da vida, entre os recursos e os gastos, entre o haver e o dever.

O que eu observo é que este país continua a ser um paraíso de burgueses! O lema da burguesia do séc. XIX consistia na expressão “mais do que ser, é preciso parecer” e este continua a ser o lema do bom português, reflectido por exemplo no tão adorado “culto da gravata”…para mim mais vale sê-lo do que tê-lo!

Os problemas da nossa sociedade sempre foram, a má gestão, falta de empenho, corrupção (…) e qual a única solução para estas doenças? É a educação, claro!
Não há outro remédio! Só nos resta educar os jovens para que este país possa evoluir, limpando assim desta forma a nossa sociedade, mas para que isso possa acontecer é preciso facilitar a vida ao jovem/menos jovem, que quer estudar/evoluir, o problema é que nos dias que correm, estudar em Portugal tornou-se um luxo! Uma licenciatura, mestrado, doutoramento podem custar 5, 8, 10 mil € … estas só estão ao alcance de alguns privilegiados e porquê? Porque por exemplo no caso das bolsas sociais de estudo, (que quando aprovadas, casos cada vez mais raros, e quando o são já vêm tarde) acontece que, caso o agregado familiar do estudante tenha algum tipo de divida ao estado, a bolsa é logo recusada, ora então, “paga o justo pelo pecador” , salvo isto e muito mais, as bolsas só cobrem o valor das propinas, ou seja, para o estado o estudante não tem despesas de deslocação, estadia, alimentação, gastos com material didáctico,…, enfim, tudo isto se reflecte na taxa de abandono no ensino superior que bate recordes.

O nosso país, nunca antes, investiu tão pouco na educação desde o 25 de Abril (3,8 % do P.I.B), somos assim, o país que menos investe na educação a nível europeu, “ai estamos na cauda da Europa?” deve ser coincidência!

Um dos relatórios da OCDE refere que o sistema de ensino está obcecado com os resultados e não está como deveria, focado no aluno! Mas contra isto vem o nosso ministro que pensa o contrário, que havia excesso nas ciências da educação, e que tínhamos uma escola demasiadamente centrada no aluno, ele lá sabe…ou não!?

É imperativo que se motive o aluno e o professor, mas o que acontece é precisamente o contrário, está a alimentar e gerar um sentimento de revolta e um outro, antagónico, o da desmotivação!

Aumentam-se o número de alunos por turma, reduz-se o número de profissionais de educação, auxiliares, professores, diminuem-se os seus vencimentos, obrigam-nos a deslocações absurdas, tipo povo nómadas,…,tudo isto resulta num aumento de retenções dos alunos e na exclusão social dos docentes!

Um professor tem o direito de se sentir estável e recompensado, pelo seu esforço diário, só assim, conseguirá fazer o seu trabalho de forma competente. Caso contrário não pode nem consegue transmitir o mínimo grau de força de vontade aos seus alunos. A motivação, este precioso ingrediente, que é o maior e mais importante factor necessário a incutir aos jovens!

Outra medida adoptada, foi o de acabar com o dispositivo de reconhecimento, validação, e certificação de competências (RVCC) após, em Dezembro do ano transacto, ter suprimido dezenas de centros de novas oportunidades, e despedido centenas de técnicos.

Os Rvcc, têm impactos inequívocos no processo de aprendizagem e evolução do formando, procurando vocaciona-lo para a área que mais se adapta ás suas características, oferecendo-lhe uma visão mais apurada da sociedade, formando-o como cidadão, dando-lhe competências e acompanhamento no seu processo evolutivo de outra forma impossíveis de adquirir.

A justificação para o fim dos Rvcc por parte do governo, prende-se no facto, de que, existem estudos que mostram que estes não foram reflexo de empregabilidade, justificando assim, o fim deste processo. Ora, é mais que certo e sabido, e não seria espectável que este fosse sinónimo de emprego garantido, tal como, outro qualquer tipo de formação, mesmo, uma licenciatura, mestrado, ou doutoramento não dão empregos automáticos a ninguém.
O que gera emprego é a dinâmica socio económica do país, dinamização esta, na qual, o governo menos tem investido.
Conclusão, ou se mudam mentalidades, em que a única forma de a alcançar será através da educação, com professores preparados, alunos motivados e os governantes deste país percebem de uma vez a gravidade dos erros cometidos, e o quanto fazem desta forma o país recuar, ou continuaremos a ser um país de estagnado e mal formado, para depois acusarem o povo de ser lamechas e de não querer trabalhar, tal como disse um dia Ramalho Ortigão: ”…admiram-se de que ele seja grosseiro, mandrião, invejoso, desordeiro, mau trabalhador, mau marido, mau pai? Ele é simples e unicamente ignorante”. Estas palavras diziam e continuam a dizer muito!

Finalizando com um modesto conselho…que se comece a servir doses ricas em nutrientes de filantropia, moral e respeito ao almoço nas nossas escolas, assim talvez um dia saía de lá alguém com moral suficiente para governar e decidir bem os destinos deste país!

“A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo” Nelson Mandela.

Hélder Leal
JS Lousada
in: TVS