A 26 de Outubro de 2011 foi criada a Fundação Serviço Nacional de Saúde com o intuito de promover a cidadania e trabalhar em estreita ligação com as autoridades de saúde.
Para além de ser mais uma Fundação, somando-se às inúmeras que já existem, a primeira iniciativa efetuada será agregar centenas de voluntários para trabalhar GRATUITAMENTE em locais onde as necessidades são mais evidentes, inserido no Serviço Nacional de Saúde.
À primeira vista, qualquer um de nós concorda com a iniciativa, mas se virmos mais além, o que se está a fazer é negligenciar mais uma vez o Serviço Nacional de Saúde, promovendo uma desresponsabilização do Estado que efetivamente deveria assumir a contratação de pessoas qualificadas para colmatar estas necessidades e simplesmente… pagar-lhes.
O Estado Português e todos os órgãos pertencentes a ele, são um sorvedouro de trabalho especializado sem remuneração.
Explora desde há largos anos o desespero das pessoas que se esforçam para concluir um percurso formativo, muitas vezes de nível superior e que vêem no “voluntariado” uma oportunidade para futuramente garantirem um emprego na sua área profissional, na maioria das vezes sem sucesso, porque quando uns se fartam, saem e entram outros com a esperança inicial do antecessor.
Muitos pensam que é melhor fazer voluntariado profissionalizante do que estar em casa sem fazer nada, pelo menos “praticam” e ganham conhecimentos, mas se assim fosse, todos trabalharíamos de borla, ou melhor, qualquer dia pagamos para trabalhar. É um retrocesso civilizacional, promovido por quem tem a obrigação, segundo a Constituição Portuguesa, garantir a saúde dos cidadãos!
A Juventude Socialista em 2010 iniciou o debate para proibir os Estágios Não-Remunerados e conseguiu que isso fosse uma realidade legislada no ano seguinte, contudo, muito mais há a fazer.
Sabemos porém que existem casos diferentes e de louvar. Pessoas que já tem trabalho e que se prestam a ajudar como uma atividade paralela e de pura cidadania, mas não tenhamos ilusões porque esses casos são muito poucos em relação aquelas pessoas desempregadas que trabalham meses e meses num organismo público, de borla, mascarando o seu trabalho especializado como - Voluntariado!
O caso torna-se mais grave quando vemos tal atitude ser tomada no Serviço Nacional de Saúde. Corremos o risco de estarmos a ser atendidos por uma pessoa com formação especializada mas sem qualquer vinculo, sem que nenhuma responsabilidade lhe possa ser imputada caso algo corra mal. Mais uma vez o Estado olha para o SNS como uma “caridadezinha”. É o inicio da desculpabilização do Estado perante algo muito sério que é a Saúde das pessoas.
O mais grave é que todos nós temos noção que enquanto houver pessoas disponíveis para prestar este serviço voluntário ao Estado ou mesmo a empresas particulares (seja em que área for), não existe a necessidade de contratar ninguém porque a “máquina” está a ser alimentada constantemente com pessoas, infelizmente desesperadas por um emprego e cheias de esperanças.
Se queremos serviços de qualidade temos que pagar às pessoas para que também possamos exigir delas. Ou o próximo passo do Governo será despedir os funcionários dos hospitais e no dia seguinte convidá-los a fazer “Voluntariado” na mesma atividade para a dita Fundação?
Voluntariado – Sim; Voluntariado Profissionalizante – Não.
Nelson Oliveira
in: TVS