A jornalista Judite de Sousa assume, em entrevista ao Público, a intenção da redação da TVI em dar espaço aos banqueiros a promoção do derrube do Governo.
Excertos da entrevista ao Público:
Público: Isso ocorreu-lhe quando estava em negociações? A ideia de um resgate já pairava há algumas semanas.
Judite Sousa: Quando estou em negociações, o resgate é uma coisa de que se fala em surdina, mas nenhum responsável político ousava verbalizar o problema. A informação da TVI mudou muito; o elemento fundamental na percepção objectiva dessa mudança, foi o facto de o pedido de ajuda financeira que Portugal foi obrigado a fazer ter passado pela informação da TVI.
Público: Refere-se às entrevistas aos presidentes dos principais bancos?
Judite Sousa: Muitas pessoas não perceberam por que é que andava a entrevistar banqueiros todos os dias. A verdade é que as entrevistas foram feitas numa segunda, numa terça, numa quarta e numa quinta; 48 horas depois, o primeiro-ministro estava a pedir ajuda financeira. (…)
Público: A ideia de fazer as quatro entrevistas foi uma espécie de xeque-mate à chegada? Um modo de dizer que era capaz de mobilizar quatro dos homens mais poderosos do país e intervir na cena política portuguesa?
Judite Sousa: Foi. Foi intencional. (…)
Público: Contacta os assessores de imprensa? Não pega no telefone para falar directamente com Fernando Ulrich?
Judite Sousa: Com alguns, trato directamente. Com o Fernando Ulrich falo directamente; talvez por ter sido jornalista, há um tipo de relação diferente. Mas não falo directamente com o Ricardo Salgado, passo sempre pelo Paulo Padrão [assessor]. As respostas surgiram logo no dia seguinte. Só mais tarde vim a perceber que aproveitaram o meu convite para acertar uma posição conjunta de forma a fazer um ultimato a José Sócrates. Acabei por, com aquelas entrevistas, fazer parte de uma narrativa que foi meticulosamente preparada pelos banqueiros.