A agência de rating Moody's baixa a nota da Grécia; as taxas de juro
explodem; o país declara falência; a população revolta-se; o exército
toma o poder, declara-se o estado de urgência e um general é entronizado
ditador; a Moody's, arrependida pelas consequências, pede desculpa...
"Alto!", grita-me um leitor, que prossegue: "Então, você começa por
dizer que vai recapitular e, depois de duas patacoadas que todos
conhecemos, lança-se para um futuro de ficção científica?!"
Perdão,
volto a escrever: então, recapitulemos. Só estou a falar de passado e
vou repetir-me, agora com pormenores. A Moody's, fundada em 1909, não
viu chegar a crise bolsista de 1929. Admoestada pelo Tesouro americano
por essa falta de atenção, decidiu mostrar serviço e deu nota negativa à
Grécia, em 1931. A moeda nacional (dracma) desfez-se, os capitais
fugiram, as taxas de juros subiram em flecha, o povo, com a corda na
garganta, saiu à rua, o Governo de Elefthérios Venizelos (nada a ver com
o Venizelos, atual ministro das Finanças) caiu, a República, também, o
país tornou-se ingovernável e, em 1936, o general Metaxas fechou o
Parlamento e declarou um Estado fascista.
Perante a sua linda obra, a
Moody's declarou, nesse ano, que ia deixar de dar nota às dívidas
públicas. Mais tarde voltou a dar, mas eu hoje só vim aqui para dizer
que nem sempre as tragédias se repetem em farsa, como dizia o outro.
Às
vezes, repetem-se simplesmente.
por: Ferreira Fernandes (DN)