O Presidente da República falou ao país acerca das suas reformas e deixou mais de 10 milhões de Portugueses estarrecidos com tamanho indecoro.
O homem que há mais anos se serve dos altos cargos da política Portuguesa e que mesmo assim não se considera político, mostrando até repulsa por ela, está objectivamente na miséria. Mas na miséria de valores morais que tanta falta fazem nesta fase que atravessamos.
Cavaco Silva mentiu e omitiu quando disse que a sua reforma rondava os 1300 euros, e como se não bastasse repetiu mais uma vez o dito valor para toda a gente ouvir. Na realidade segundo a declaração de rendimentos de 2010, a totalidade das suas reformas dão um valor exacto de 10.042€/mês (tendo declarado - 999.894,95 euros/anuais), reformas essas que vão além da atribuída pela Caixa Geral de Aposentações e que optou recebê-las em detrimento do salário de Presidente da República, porque a lei impede a sua acumulação.
Cavaco Silva é efectivamente um privilegiado em termos salariais. Mas é certo que não podemos entrar na demagogia barata de alinharmos em petições exigindo a sua demissão (como se isso fosse possível!) ou colocar em causa o valor auferido perante a responsabilidade que desempenha e desempenhou. No entanto as altas figuras do Estado não podem ficar espantadas quando um simples cidadão se insurge ao ouvir o Presidente da República dizer que a reforma não chega para fazer face às suas despesas, sabendo nós de antemão que é a própria República Portuguesa que paga sua casa, alimentação, transporte, água, luz, etc.e se calhar, até o Bolo-Rei que tanto aprecia.
Perante isto, uma figura que se diz tão poupada, afinal pertence aquele grupo que ele próprio já caracterizou – “Portugueses que vivem acima das suas possibilidades”.
Desde 1988 que Cavaco Silva tem um grave problema sempre que se fala em - Reformas. Foi precisamente nesse ano que recusou enquanto Primeiro-Ministro, atribuir uma reforma "por serviços excepcionais e relevantes" ao Capitão de Abril – Salgueiro Maia (que morreu na miséria em 1992), mas não hesitou um momento em atribuir reforma idêntica a dois ex-inspectores da PIDE/DGS.
As suas últimas declarações são a “gota de água que fez transbordar um copo” cheio de atitudes pouco éticas da pessoa que ocupa o mais alto cargo do nosso país. Foi apenas mais um caso da afamada “Política de Verdade” que se exigia mas que não se pratica.
Este mediatismo à volta de tais declarações surgiu porque foram nitidamente execráveis perante todos os esforços que ele próprio aplaude e que estão a ser exigidos aos Portugueses, mas por si só, são uma brincadeira de criança perante todos os episódios muito mais graves que Cavaco está envolvido e que carecem de esclarecimento… ad eternum.
Ao invés de proferir umas palavras elitistas, liberalistas e insensatas, já era altura de explicar ao “Zé Povinho”, tal como prometeu na sua campanha eleitoral, como conseguiu vender acções não cotadas em bolsa da extinta SLN (BPN) com lucros de 140%. Em 2001 Cavaco Silva comprou a um euro 105.378 acções e em dois anos vendeu-as por 2,4 euros, rendendo-lhe cerca de 150 mil € e 200 mil € a si e à sua filha, respectivamente. Tudo isto por intermédio de uma instituição bancária envolta em esquemas financeiros pouco claros e que tem sido um autêntico cancro para o erário público onde predominavam nas chefias, distintos “amigos políticos” do nosso Presidente.
Afinal de contas, o sol quando nasce é para todos e de certo que todos gostariamos de saber como se conseguem tais lucros.
Os Portugueses esperam ansiosamente que todos estes assuntos sejam devidamente esclarecidos, seja de que quadrante for. Os lucros de Cavaco, a licenciatura de Sócrates e o Freeport, os sobreiros do CDS-PP, os robalos de Vara, a razão de Isaltino Morais ter sido condenado a prisão efectiva em todas as instâncias e nunca ter sido preso; o BPN/SLN de Oliveira e Costa, Dias Loureiro e Duarte Lima, etc. têm que ser explicados.
Não podemos pactuar quando vemos um Presidente da República: Manter um Conselheiro de Estado - Dias Loureiro, após ter rebentado o escândalo BPN/SLN que desgraçou os cofres do Estado, com o único objectivo de o proteger da justiça; Levantar a invetona mentirosa das escutas a Belém por motivos eleitoralistas dando cobertura ao seu assessor Fernando Lima; Referir que há limites para os sacrifícios exigidos aos Portugueses, mas depois a dar provimento a todas as medidas de austeridade; Alarmar o país com o Estatuto Administrativo dos Açores; Menosprezar e a atacar os adversários políticos no discurso de vitória das presidenciais, típico de gente vingativa, cruel e sem elevação; Sacudir responsabilidades pelo actual estado do país quando na verdade governou durante uma década em que o dinheiro vindo da União Europeia chegava em “contentores” e era literalmente dado sem qualquer fiscalização nem regra, e perante tudo isto ainda nos diz - "Para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes". Até 2015, todos iremos contribuir de forma solidária para que o nosso distinto Presidente reduza as suas elevadíssimas e principescas despesas. Pode estar descansado, a casa, carro e restantes custas, estão por nossa conta!
O Povo “nunca se engana e raramente tem dúvidas”...
Nelson Oliveira (in: Jornal TVS)
JS Lousada