Vale bem a pena – pena no seu sentido de castigo e de sofrimento, mas também de tristeza e dó – ler a entrevista do Duarte Marques. Estamos perante o presidente da JSD, perante um deputado e perante um marmanjo de 32 anos.
Vou saltar por cima da cultura da calúnia de que é fervoroso
praticante, por cima da activa tentativa de criminalizar ex-governantes
socialistas, por cima das recordações psicadélicas a respeito de Merkel
(neste último caso, com grande dificuldade) e por cima da oferta de
porrada a Sócrates. Vou apenas comentar a seguinte passagem:
Não tem motivo para se manifestar?
Tenho imensos. Acho até que os portugueses se começaram a manifestar demasiado tarde. A indignação que está hoje na rua devia ter acontecido há quatro ou cinco anos.
Há quatro ou cinco anos estávamos em 2008 ou 2007, dizem. Duarte
Marques lamenta não ter visto os portugueses na rua manifestando
indignação igual à que exibem hoje, e não devemos duvidar da sua
sinceridade. Infelizmente, a entrevistadora não lhe perguntou o que
poderia ter causado essa comoção nacional in illo tempore.
Seria o facto de o défice estar controlado e abaixo dos 3% pela primeira
vez em décadas?
Seria o facto de a pobreza e a desigualdade estarem a
diminuir pela primeira vez em décadas?
Seria o facto de se estar a fazer
o maior investimento em educação, ciência e tecnologia da democracia?
Seria o facto de se ter uma política de exportações de alto e crescente
sucesso?
Seria o facto de se ter uma estratégia vanguardista para o
sector energético?
Seria o facto de se estar a conseguir modernizar o
tecido empresarial?
Seria o facto de se ter conseguido a
sustentabilidade da Segurança Social?
Seria o facto de se estar a
conseguir tornar muito mais eficiente o Estado?
Seria o facto de
Portugal e o Governo português irem acumulando prestígio e influência
internacional?
De facto, razões não faltavam para a indignação dos cidadãos que se
identificam com o Duarte Marques e que contam com ele para pôr isto na
ordem. Lá isso, é factual.
in: Aspirina B
in: Aspirina B