É apelidado por muitos (e não será por acaso) como o
país que melhor funciona na Europa ou o país da boa vida. Esta semana, a
revista Visão faz um retrato da Noruega. Interessantíssima reportagem!
Os indicadores não enganam. A Noruega tem um rendimento médio per capita anual de 42 640 euros e uma taxa de desemprego de 3,2%. Portugal aponta para oa 16 893 euros de rendimento médio per capita
anual e a sua taxa de desemprego chega aos 12,5 %. Os noruegueses têm
um salário mínimo (ou salário básico) de 2000 euros, enquanto os
portugueses se ficam pelos 485 euros. A Noruega ocupa o primeiro lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano,
ficando-se Portugal pelo 41º lugar. Números são números. Há situações
em que os números devem ser relativizados, mas não é este o caso.
Devemos, sem dúvida, olhar para estes indicadores e levá-los muito em
conta. Devemos preocupar-nos, sim. Devemos tentar perceber em que
falhamos e como podemos reverter a situação. Se se justificar e se for
possível devemos seguir o exemplo, indubitavelmente!
Antes
de mais, é importante saber que caminhos foram seguindo os noruegueses
para alcançarem este patamar invejável e exemplar. Primeiro, pode
referir-se que o êxito económico e social da Noruega advém do
individualismo (sim, individualismo!) dos seus habitantes. No entanto,
esta característica concilia-se com um notável sentido comunitário, em
que o bem estar de todos, a igualdade e a solidariedade são preocupações
constantes. De facto, os cidadãos depositam uma extrema confiança no
Estado, que responde através de generosas e antidiscriminatórias
prestações sociais. A Noruega é, assim, uma "mescla equilibrada de capitalismo e colectivismo".
Este
país enveredou, efectivamente, por uma terceira via. Ao longo da
história caminhou em sentido diverso dos demais Estados. Este será,
provavelmente, o "segredo" deste povo nórdico. Quando o
Estado-Providência foi posto em causa pelo neoliberalismo e pela crise
financeira, a Noruega optou por continuar a aposta no seu "sistema do
bem-estar" e não cedeu.
De
destacar é ainda a postura e mentalidade norueguesas no que a impostos
diz respeito. O lema é "dar para receber". São generosos no pagamento de
impostos, porque o Estado é generoso com eles. Esta confiança no Estado
contrasta fortemente com a realidade portuguesa! Interessante é também o
facto de a informação sobre os rendimentos de cada cidadão ser pública
através da internet e de recair sobre os que mais têm uma maior
responsabilidade.
Não
pode ignorar-se, contudo, que a Noruega foi "abençoada". Até Dezembro
de 1969, cresceu graças ao suor dos seus cidadãos. Depois, descobriram
petróleo e a gestão desta riqueza é considerada um êxito. Saliente-se
que o petróleo é dos noruegueses e a sua gestão e controlo estão nas
mãos do Estado. Além disso, criaram um Fundo Governamental de Pensões,
onde são depositadas as receitas do petróleo de modo a serem investidas
nos mercados mundiais. Os lucros desse fundo pagarão as pensões dos
noruegueses e apenas 4% deles poderão ir anualmente para os cofres
públicos para equilibrar o orçamento do Estado. É o primeiro fundo de pensões público do mundo
e é o reflexo da preocupação do Estado no bem-estar das gerações
futuras. Fácil, pensarão alguns: o petróleo será sempre uma boa solução
para qualquer questão. Mas há aqui mais do que riqueza material... Há
sem dúvida uma riqueza de espírito ímpar deste povo, que o destaca e o
torna um exemplo. Não admira, por isso, que o ministro das Finaças
norueguês tenha afirmado que "no dia em que o petróleo acabar, teremos
sido capazes de construir algo para o substituir".
Por tudo isto, não poderá afirmar-se que a Noruega é, de facto, o último estado socialista da Europa? Reflictamos...