Já nem é preciso recorrer à oposição para que as pessoas vejam o que está diante dos olhos.
Desta vez, é o crónico Pacheco Pereira (PSD) a questionar-se onde anda a comunicação social deste país para denunciar a entrega das privatizações aos desbarato e sem os mínimos critérios de exigência.
Leiam o seguinte excerto:
"O modelo escolhido para as
privatizações é completamente discricionário. Não implica concursos,
consultas abertas ao mercado, nada que possa ser escrutinado pelos
concorrentes e pelos portugueses. O governo vai decidir por si, por
razões que só ele define e avalia, e não tem contas a prestar a ninguém.
Considerações como os “interesses estratégicos” são outra maneira de
acentuar a discricionariedade com grandes palavras, cuja vacuidade pode
servir para tudo. Isto é um absurdo, está diante dos nossos olhos, e
passa incólume pela indiferença geral.
Pior ainda, o primeiro-ministro revela preferências em público, no caso
da EDP, pelos brasileiros, ainda nem sequer está definida uma qualquer short list de
concorrentes às privatizações. Acresce que a privatização da EDP parece
ser uma das mais apetecíveis e que mais concorrência suscita entre
grandes grupos estrangeiros.
Por tudo isto, se há privatização que devia ser exemplar, é a da EDP. O
que está em completa contradição com um primeiro-ministro que diz que vê
“com muito bons olhos" as propostas brasileiras, ou seja, em bom
português, “não se metam nisto porque já está tudo apalavrado com Dilma
Rousseff”.
Para além disto ser muito estranho e completamente contrário a quaisquer
boas práticas em casos como estes, em que a igualdade dos concorrentes
deve ser completa à partida e só diferenciada no conhecimento das
propostas e na negociação, corre-se o risco de os outros concorrentes, a
diferentes processos de privatização, mandarem às malvas participarem
na venda de empresas em Portugal, porque simplesmente não consideram
sério o processo. Ou então, voltarem-se decididamente para o lobismo, no
limiar da corrupção, porque é mais eficaz do que fazerem candidaturas
com princípio, meio e fim e pode até ser mais barato.
Quer o Presidente da República, quer o Tribunal de Contas, já alertaram
para a necessidade de transparência neste processo, mas preocupa-me a
indiferença da comunicação social e, sem ela, os portugueses vão acordar
um dia sem as poucas jóias da coroa que têm e encontrar-se com casos
ainda por explicar como o do BPN. E então será tarde demais."
in: abrupto
in: abrupto