Aumento do número de Acidentes Vasculares Cerebrais em indivíduos jovens

O título do presente post, reflecte a conclusão de um estudo americano publicado este ano na revista Annals of Neurology. Enquanto esperamos por dados nacionais, facilmente intuímos que esta realidade não será muito diferente em Portugal.

A par dos já conhecidos factores de risco, como a diabetes, a hipertensão e a obesidade, acrescente-se o stress no qual toda a sociedade está mergulhada, assim como a falta de optimismo* (por pura constatação da realidade!) e, podemos prever que este cenário tenha tendência a agravar.

Os AVC são e, previsivelmente continuarão a ser, um flagelo com sério impacto social e económico. Não se trata apenas de gastos directos com a saúde (os únicos contabilizados pelos governos), mas sim da perda de capacidades físicas, cognitivas e emocionais de pessoas que deixam de poder dar o seu contributo directo á sociedade e ao país. È urgente pensar num verdadeiro plano de acompanhamento e de reabilitação destes pacientes!

Quando falo de acompanhamento com vista á reabilitação, não falo apenas de consultas de seguimento para ajuste da medicação, ou de umas quantas sessões de fisioterapia e de terapia da fala, que são obviamente necessárias. Falo sim de reabilitação cognitiva e comportamental, assim como de acompanhamento emocional. Apesar de serem fundamentais á recuperação, os domínios emocional e cognitivo, são frequentemente negligenciados. Desde que aumente a mobilidade e a severidade do quadro afásico seja atenuado, o processo é dado como finalizado. Se o individuo tem défices de memória, se apresenta dificuldades em alternar a realização de tarefas, se não consegue planear o seu comportamento de forma eficaz, se não ajusta o seu comportamento a diferentes contextos sociais, se apresenta desinibição comportamental, ou se simplesmente se sente deprimido, incapaz de se adaptar á sua nova realidade, isso actualmente não é considerado!!
E as famílias destes doentes??? Tantas vezes abaladas, pelas alterações das suas dinâmicas? O familiar vitima de AVC (sim por que os doentes também são pais, mães, esposos e filhos para além de serem doentes!) que, por força dos défices neurocognitivos, se vêm impossibilitados de levar a cabo os seus papeis? A família também deve ser alvo de intervenção, quer de âmbito psicoeducativo, no sentido de fornecer dados relativos á patologia neurológica e consequentes alterações no funcionamento do sujeito, quer na perspectiva sistémica.

Falar em reabilitação pós AVC, implica falar de um sistema integrado de reabilitação, onde terão lugar o médico, o enfermeiro, o terapeuta da fala, o fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional e o neuropsicólogo. Os domínios cognitivo, comportamental e emocional, dependem em larga medida deste último técnico. No entanto é este que se encontra apenas em tempo parcial nas unidades de cuidados continuados e nas clínicas de reabilitação (quando existem!!), isto apesar de vários estudos (sobretudo em países anglo-saxónicos), apontarem para o impacto destes profissionais na recuperação dos indivíduos depois de um AVC. Um sistema de reabilitação integrado, será o garante da melhor integração destas pessoas na vida activa. Ganhas os indivíduos, a família, a sociedade e…. a economia.

* Estudos recentes apontam para o carácter protector do traço optimismo em relação à ocorrência de AVC. 

por: Bruno Peixoto
http://neuropsicli.blogspot.com/