Sucessivos cortes no ensino superior,
aumento de propinas, restrições severas e cortes infundamentados nas bolsas de
estudo, aqueles que escolhem ficar não o fazem de ânimo leve, as suas famílias
têm hoje de suportar um peso que por vezes se torna pesado demais. Não há
estudante académico que não conheça alguém que teve de abandonar o ensino, ou
que sobreviva de um modo sufocante para poder permanecer lá. Com a limitação
das bolsas de estudo a primeira classe social a sofrer as consequências é a
classe média, as manchetes dos jornais são claras, as preocupações dos
economistas também, a perda do seu poder de compra e o seu galopante
desaparecimento estão a condicionar as já tão frágeis contas do estado. A
classe média é um forte acelerador da economia e o seu desaparecimento abre o
fosso social entre ricos e pobres, recriando uma sociedade arcaica.
Mas não só de consequências económicas
se dita este fado, “A força que não nasce”
intitula este texto e materializa-se numa geração inteira que se vê presa nas
amarras da crise. Imaginem esta situação, ou não imaginem, abram os olhos e o
cenário repete-se por todo o território nacional, quando o agregado familiar
não suporta mais o “fardo” do ensino superior, o crédito aparenta ser a única solução.
E durante anos as opções destes pareciam infindáveis.
Os pais hipotecavam as casas, os
filhos estudavam, mais tarde surgiram os Créditos para Estudantes, copiando o
modelo americano, a banca hipotecou o futuro dos jovens, assim que terminam os
estudos são obrigados a pagar o dinheiro que lhes foi cedido, ora, mas não só
esse dinheiro: também as taxas, os juros e os impostos. Mas com que dinheiro?
Certamente não é o do primeiro ordenado, pois este dificilmente aparece e
quando aparece é precário ou com um valor reduzido. Quem paga? O agregado
familiar claro está, aos cortes do governo, à austeridade europeia e a tudo o
resto, somam agora as dívidas do futuro que compraram para os seus filhos, o
futuro que os filhos ainda não têm e que provavelmente nunca terão.
Porque não nasce esta força? A
justificação é tão óbvia quanto lógica e a sua fácil premonição devia ter
evitado esta situação. Esta força não nasce porque não pode estudar, esta força
não nasce porque já tem dívidas antes de ter posses, esta força não nasce
porque os seus professores vêm os contratos não renovados, esta força não nasce
porque vê as suas áreas curriculares limitadas e mal equipadas, esta força não
nasce, porque não tem espaço para crescer, não tem mercado para arriscar, não tem
tempo para se desenvolver, afinal, tem muitas dívidas para pagar.
Artur Coelho
JS Lousada
in: TVS