Nunca em Portugal e na Europa se formaram tantos economistas e gestores. Para isto. Com currículos emoldurados, folhas de serviço repletas de recomendações, alguns até as traziam na lapela para vantagem eleitoral, como o presidente Cavaco Silva. Que nos tem servido? De pouco.
Os tempos não estão para tecnicidades, mas para política a sério. Políticos de verdade, com bom senso, faro antecipatório, capacidade negocial. Onde é que eles andam? Ninguém sabe. Vemos esta Europa cheia de pirómanos desprovidos de bom senso e de autoridade política para aplicarem um rol de medidas duras. É verdade, serão sempre duras, mas podem ser inteligentes e explicadas. Nada disso acontece.
O caso de Chipre é a última das evidências. Os ministros das Finanças, imbuídos de espírito divino, resolvem fazer umas contas e determinar a régua e esquadro todas as letrinhas do discurso político europeu. É mais ou menos como ter um revisor oficial de contas de uma grande empresa definir a sua estratégia para os próximos dez anos. Em menos de um piscar de olhos, toda a gente acorda e tenta emendar um erro, que mesmo antes de acontecer já o era.
Onde estão os políticos, quando eles mais são precisos? Esta crise europeia não isenta ninguém de responsabilidades. Só para não atirar mais uma pedra apenas à senhora Merkel, vale a pena dizer que o SPD e os Verdes defenderam no Bundestag a medida cipriota. É essa a definição de crise: toca a todos. Mas o que nós estamos a passar é muito mais do que uma atribuição de culpas: é a linha que separa uma Europa desagregada de uma Europa minimamente encaixada nas suas peças. Não é lirismo, é o reconhecimento do momento mais importante da curta história das nossas democracias. O euro foi mal desenhado, mas é com ele que temos de nos articular. O seu fim é, por inerência, o fim desta União. Porque politicamente cai. Nunca como hoje foram necessários políticos.
Bernardo Pires de Lima (DN)