Entrevista de Nelson Oliveira ao Jornal de Lousada

Grande Entrevista - NELSON OLIVEIRA 

Presidente da JS Lousada

Nelson Oliveira

  “Pedro Machado é, de certeza absoluta, a pessoa mais preparada para dirigir os destinos de Lousada. ”

Nelson Oliveira tem 28 anos, é licenciado em Psicologia Clínica e possui pós-graduação em Neuropsicologia. A frequentar o mestrado em Gestão Autárquica, é ainda Presidente da Associação Nacional dos Jovens Autarcas Socialistas (ANJAS) e membro da Comissão Nacional da JS.

 
Jornal de Lousada (JL) – Como surgiu a sua ligação e este interesse pela política?
 Nelson Oliveira (NO): A minha entrada na Juventude Socialista (JS) foi feita um pouco tarde, dado aquilo que é previsível em qualquer jovem que tenha um interesse fundamentado pela política, mas também foi por opção própria. Foi um início tardio por opção própria. 
Eu só entrei na JS, salvo erro, em 2009 (a tender para 2010). Preenchi a minha ficha de militante e encaminhei-a para a Sede Nacional. Aí já fazia parte, efetivamente, da Assembleia Municipal – pois já tinha sido convidado anteriormente – e ao mesmo tempo também me tornei militante do Partido Socialista (PS).

JL – Assumiu logo uma posição com algum protagonismo. Pode-se dizer, então, que chegou tarde mas em grande?
NO: Ainda houve ali dois anos em que pertenci ao Secretariado de João Correia, meu amigo. E, pronto, as coisas foram-se desenvolvendo, também partindo muito do nosso trabalho na Assembleia Municipal, junto dos vários órgãos distritais e nacionais e logicamente no concelho.

JLEnquanto líder da JS, como caracteriza a actual estrutura JS de Lousada?
NO: A estrutura da JS Lousada é uma estrutura completamente renovada. Iniciou-se com o trabalho da Carla Dias – que foi um trabalho fundamental para alavancar a JS –, depois houve ali um hiato em termos de idades, em que ela não poderia continuar a assumir a presidência. Veio o João Correia e depois, naturalmente, entrei eu e consegui trazer comigo uma série de jovens, que são pessoas muito mais novas do que eu próprio. Portanto, são essas pessoas o futuro da JS e é isso que se pretende.

JL – Quantos elementos tem a JS Lousada?
NO: Neste momento, estamos a crescer bastante. Oficialmente cerca de 300 (a chegar aos 400) militantes. Mas os números a nós não nos importam. O que nos importa mesmo é o trabalho e que as pessoas venham até nós, livre e espontaneamente. 
Claro que nós não somos uma estrutura estática e temos de estar em contacto permanente com os jovens. E isso faz-se pessoalmente. 
Se a pessoa viver em Lousada consegue estar perfeitamente em contacto connosco. Não preciso de estar de bandeira em punho para dizer que sou da JS ou de qualquer outra estrutura partidária.

JL – A JSD afirma não conhecer o trabalho levado a cabo pela JS. Referem apenas a existência de comunicados e de artigos que surgem na imprensa. É verdade? Resume-se só a isto o vosso trabalho?
NO: Não. Penso que a JSD tem estado muito desatenta – não me admira nada a desatenção crónica –, mas, por exemplo, ainda este fim de semana fizemos uma iniciativa a nível social. Reunimos durante quatro meses alguma roupa, numa campanha alargada, em que nós próprios íamos buscar roupa a casa das pessoas, porque estarmos parados à espera que as pessoas nos trouxessem roupa, livros ou material seria muito difícil. Em abono da verdade, fiquei muito surpreendido pela recolha que efetivamos. Entregámo-la, no passado sábado à tarde, à ACIP. Chegou a um ponto que já estávamos a encher completamente a sala de roupa. E importa dizer que, nos próximos tempos, esta campanha não irá terminar, porque temos outras instituições para o fazer. 
O importante num elemento da JS é saber, primeiro de tudo o que é o PS, o que são os ideais de esquerda, principalmente numa altura como esta. É lógico que cada um é livre de pensar o que quer, mas estar a apoiar políticas de direita com este capitalismo desenfreado que estamos a viver atualmente é contraditório, sobretudo, estando os jovens a sofrer tanto com isso, inclusive com o desemprego, que tem atingido níveis estrondosos. 
Cada vez mais se nota a atitude de solidariedade entre as pessoas, que, como é lógico, não é uma atitude exclusiva das pessoas de esquerda, como a esquerda mais conservadora pretende, muitas vezes, dizer. 
Vejo que, cada vez mais, os jovens estão a tentar aderir a ideais de esquerda. Vê-se em muitos movimentos de indignados e movimentos livres de partidarismo que as pessoas lutam numa tentativa de igualdade entre todos.

JL – Focou a situação atual do País. Na sua opinião, terá o PS conduzido ou contribuído, também, para essa situação?
NO: Claro e eu já referi isso. Já o assumi na própria Assembleia Municipal. Todos os governos, desde o 25 de abril – vamos falar apenas em aspetos democráticos – principalmente o Governo de Cavaco Silva e António Guterres, foram grandes responsáveis pela situação que estamos a viver, porque não souberam gerir o país. Geriram-no quase que em mecanismos cíclicos, ininterruptos de investimento desenfreado. 
Mas nos tempos de maior receita e de maior expansão económica, convém que o país se resguarde um pouco de certos investimentos. Mas não. Havia dinheiro a entrar em Portugal e foi desperdiçado, sobretudo por esses dois governos. Depois foi quase uma “pescadinha de rabo na boca”: as situações começaram a surgir e a surgir. Portugal sempre com níveis de endividamento completamente astronómicos e tudo isso foi culminar no Governo de José Sócrates. Podia ter sido em todos os outros e digo isto porque existe sempre aquela tendência de culpar Sócrates por todo o mal que existe à face da Terra e eu acho que isso é perigoso em todos os aspetos políticos – assim como era perigoso culpar só Cavaco Silva ou só Durão Barroso. 
Muita gente esquece-se – e isso é que eu acho preocupante - que nos primeiros anos do Governo de Sócrates, o défice diminuiu, por exemplo. Uma série de situações foi melhorada. Foi um Governo até reformista, como foi, aliás, o próprio Governo de Cavaco Silva. Mas disseram-nos (Conselho Europeu), e isso é uma verdade inquestionável, que teria de começar a haver um investimento duro em políticas públicas e isso foi seguido com o apanágio e a bandeira da própria Angela Merkel. 
Obviamente que depois não deu nos resultados previstos, pois saiu pior a "emenda do que o soneto". Hoje em dia, estamos todos a pagar um pouco essa fatura. Austeridade custe o que custar. Os resultados são mais do que conhecidos, ou seja, não está a resultar e estamos numa fase em que a solução para o país é uma solução governamental, mas é óbvio que este Governo não está a dar conta do recado e tem pessoas incapazes. Mas, acima de tudo e fora de partidarismos, acho que é uma solução europeia que estará a faltar.

JL – Voltando a centrar-nos no concelho de Lousada. Estando o PS à frente da presidência de Lousada há 24 anos, que análise faz dessa gestão socialista de Jorge Magalhães?
NO: Penso que foi uma gestão exemplar a todos os níveis. É lógico que todas as pessoas reconhecem isso mesmo e reconhecem a capacidade de Jorge Magalhães – e não só de Jorge Magalhães, mas também de todas as pessoas que o acompanharam ao longo destes 24 anos. 
É completamente pacífico afirmar que Lousada conseguiu dar o salto em termos evolutivos em relação a muitos outros concelhos, portanto é um trabalho meritório, de uma pessoa que sempre pensou pela sua cabeça e isso comprova-se mesmo na sua relação com o próprio PS. 
É uma pessoa que só pensou em Lousada, que é um pouco uma característica do próprio PS de Lousada, um partido muito local. E isso está refletido no próprio trabalho de Jorge Magalhães, que sempre elevou Lousada acima de qualquer interesse. E o resultado está à vista de todos.

JL – Quais são, na sua opinião, as obras emblemáticas que ficarão do executivo de Jorge Magalhães e como caracteriza o planeamento feito por esse executivo, tendo em conta que a oposição acusa o PS de falta de planeamento?
NO: Haver falta de planeamento significaria dizer que, por exemplo, Lousada se inseria no conjunto de câmaras mais endividadas do país. E, como é óbvio, não é verdade. 
Aliás a situação financeira de Lousada, e ao contrário do que o PSD e o CDS querem dizer, é excelente e isso mostra um planeamento muito sustentado. Caso contrário, aconteceria como tem acontecido na maior parte das câmaras aqui à volta, que estão com "troikas sobre troikas", e onde houve, quiçá, um desenvolvimento desenfreado em certas alturas e se calhar um pouco eleitoralista, em que as pessoas para ganharem eleições fizeram investimentos à toa e depois as coisas complicaram-se. Vemos isso em Paços de Ferreira, Penafiel e Paredes. 
Já em Lousada houve mesmo esse planeamento sustentado, pelas 25 freguesias – e refiro isto, por ser outra das críticas feitas pela oposição. 
Logicamente que depois falam um pouco no centralismo, devido ao Complexo Desportivo – que é outra das críticas que não se percebe. Lousada, neste caso falando a nível desportivo, tem boas instalações por todos os pavilhões, falo por exemplo do pavilhão de Meinedo, que consegue comprovar a veracidade de todos esses casos. 
Portanto, eu penso que a principal marca é mesmo o desenvolvimento e um desenvolvimento sustentado. Não foi um desenvolvimento à pressa, não foi um desenvolvimento partidário. Foi um desenvolvimento a pensar em todos os cidadãos e que conseguiu conduzir Lousada à situação em que hoje se encontra. 
É lógico que há sempre coisas a melhorar. A política não se esgota no mandato de Jorge Magalhães e por isso é que agora há o prosseguimento, com uma nova marca – penso que será de certeza absoluta com Pedro Machado, mas cabe aos lousadenses decidir isso –, mas Jorge Magalhães ficará com toda a certeza na história de Lousada.

JLUm dos flagelos deste concelho é o desemprego. Na sua opinião, poderiam ter existido medidas mais ativas em termos de emprego ao longo dos últimos mandatos ou essas medidas existiram?
NO: Eu vejo a questão do desemprego de um prisma muito próprio. A coisa que eu mais detesto em política são os chavões. «Vamos melhorar os níveis de desemprego para níveis bombásticos!» ou «Vamos fazer tudo e mais alguma coisa!». Isso é um chavão completamente desnecessário e o povo já nem liga. Porque não é com passos de magia que se conseguem soluções. 
Agora, há efetivamente soluções a criar, por exemplo, estas medidas que foram apresentadas no final do ano de 2012 pela CML – medidas de apoio à economia – são medidas muito boas e dentro das possibilidades do concelho. Não é o próprio concelho, por si só, que vai acabar com o desemprego. Pode ajudar nisso, mas sozinho não consegue. Isto parte principalmente de iniciativas governamentais e isto vai ao encontro ao que há pouco falávamos relativamente ao país e da ajuda europeia. É lógico que os municípios podem dar os seus contributos na parte que lhe é destinada: benefícios fiscais, benefícios de isenção de impostos, como agora está a ser feito. E isso é algo que já está a ser feito e que deve ser feito. Não pode ser apenas uma medida eleitoralista.

JL – Na sua opinião, essas medidas já deviam ter sido tomadas há mais tempo?
NO: Talvez. Também tem de se pesar tudo. Gerir uma Câmara não é a mesma coisa que gerir uma casa ou uma família, uma pessoa tem que ter ponderação, tem que saber no que é que deverá investir e também tem de saber com que dinheiro deverá contar, com que receita. E, se calhar, Lousada está nesta situação de desafogo financeiro porque em alguns momentos conseguiu também arrecadar algum dinheiro e fazer obras sustentáveis para que pudesse também ganhar algum dinheiro a esse nível. 
Agora sim, mesmo ao nível dos princípios económicos, é altura de apostar a sério na economia local. Em alturas em que isso se calhar não era tão necessário, porque a economia estava boa, terá havido preocupação em arrecadar dinheiro e agora é, com certeza, a altura certa para o investir. Agora é o momento e não podemos fugir a isso. 
Desde 2008, que a economia tem caído e não só por culpa dos portugueses. Este foi um problema endémico por todo o mundo, que começou nos EUA com a crise dos subprimes e veio por aí fora. Por isso, essa questão que muito se aborda do “viver acima das possibilidades” chega a roçar a brincadeira, porque toda a gente com o seu trabalho justo e meritório pretende ter uma vida melhor e não podem ser acusados dessa pretensão. O problema é que na altura os bancos promoviam esse mesmo endividamento desenfreado.

JL – Sendo Lousada um concelho jovem e estando a JS em permanente contacto com os próprios jovens, quais as preocupações centrais da JS?
NO: O desemprego jovem é, neste momento, a questão mais importante que a JS se está a centrar. 
A velha questão do Governo preferir que os jovens emigrem não pode ser acatada. É como se estivéssemos a dar o nosso ouro a outros países. O concelho, a região e o país têm que encontrar soluções e isso é função dos políticos. Os políticos não estão ali só para gerir minimamente o país. Não. Eles estão ali para tomar decisões, muitas delas difíceis, mas que têm de tomar. Importa é que essas promovam o bem-estar não só de quem votou em si, mas de toda a população. Mais uma vez não é com chavões que lá vamos. 
Não basta dizer que estamos preocupados. A juventude precisa é de trabalho! Não precisa de muita preocupação em termos de juventude por si só. A partir do momento em que há trabalho, as políticas de juventude vão surgindo e sendo efetivadas. 
Em Lousada, uma aposta no desporto e na cultura é uma política de juventude, por exemplo, ou seja, as políticas não precisam de estar só viradas para o chavão muito bonito da juventude por si só. A juventude é a mesma coisa que outra faixa etária como os idosos. Fazem parte da população, são seres humanos e são lousadenses como todos os outros. 
Não vamos estar a inventar o que já está inventado. São precisas soluções práticas, mas não ficamos por aqui. Além do desemprego, há depois a questão habitacional. Acho engraçado o candidato Leonel Vieira dizer que a reabilitação urbana não é uma prioridade. Não é só uma prioridade como é uma prioridade total, porque há muitos edifícios em Lousada a precisarem de reabilitação. 
É lógico que houve sempre essa preocupação em termos urbanísticos, mas se calhar se houvesse investimento nessa área – e vai ser investido, pois é um dos objetivos da candidatura de Pedro Machado – poderia conseguir-se que os jovens se fixassem muito mais no nosso concelho, em vez de terem de ir para outros. Para já, isso não está a acontecer, porque até os Censos o comprovam que até estamos a ter uma boa taxa populacional. As infraestruturas que temos, a reabilitação urbana, a aposta no emprego e principalmente em áreas fundamentais – que acho estranho ninguém ter dito isto mas, … – como o têxtil, o calçado ou a construção civil para um determinado tipo de população, a aposta na educação e formação das pessoas são aspetos e áreas fundamentais que não poderão fugir da perceção de quem comandar os destinos de Lousada.
E acho estranho, até por parte do Presidente do PSD Lousada, Agostinho Gaspar, não conseguir identificar o principal motor de Lousada em termos empresariais, quando ele próprio tem uma indústria têxtil. Mas é nisso que se deve apostar. É essa a tradição de Lousada, como em Felgueiras é o calçado ou como em Paços de Ferreira são os móveis. E depois, apostar também na inovação, nas indústrias criativas, uma área que depois irá abarcar todos esses setores.

JL – Contudo, uma elevada percentagem das empresas em Lousada não estão numa zona industrial. Deveriam existir políticas que incentivassem as empresas a deslocarem-se para uma zona industrial?
NO: Nas iniciativas apresentadas no final de 2012 – e quem estivesse minimamente atento, e eu sei que o Jornal de Lousada esteve lá, pena foi não ter estado ninguém da oposição nesse lançamento –, muitas das medidas tomadas vão ao encontro disso mesmo, promover o nível industrial, promover a redução de taxas…, tudo isso para ajudar as empresas. É lógico que também não podemos esperar que com passos de magia – como disse há pouco – tudo volte ao normal. É lógico que não. Isto é um problema muito grave em todo o país, em toda a região europeia, portanto não será muito simples. Não vale a pena entrarmos em promessas desmesuradas.

JL – O vosso candidato já foi apresentado. Como classifica esta candidatura de Pedro Machado?
NO: Pedro Machado é, de certeza absoluta, a pessoa mais preparada para dirigir os destinos de Lousada. Quando digo preparada… é porque o é mesmo! Já está em funções autárquicas de grande responsabilidade há oito anos, portanto, oito anos dão, de certeza, para ter o completo domínio de todos os assuntos. É uma pessoa capaz, credível, sensata – o que é fundamental –, ou seja, não entra em promessas desmesuradas, mas que também tem uma marca diferente, indo um pouco mais além, do que até o próprio Jorge Magalhães. Portanto, é uma pessoa interessante e que de certeza dará um bom contributo para Lousada.

JL – Como vê as críticas da oposição em torno de Pedro Machado, que o classificam não como “político”, mas sim um “mero técnico”?
NO: Ainda bem que não o veem como político, porque a política da maneira que está vista por todos os cidadãos, lousadenses e não só, torna essa consideração tremendamente positiva para Pedro Machado. Pelo menos os lousadenses ficam a saber que é uma pessoa que não vai ceder a qualquer pretensiosismo ou a qualquer promessa fácil. 
Agora que está a chegar a altura das eleições vamos assistir a uma série de promessas e as pessoas têm de avaliar mesmo o que é exequível. As pessoas, mais do que os chavões, mais do que saber que se vai formar a iniciativa com o nome A, B, C ou D, importa perceber como se irá fazer, como é que isso se aplica, em quê que irá consistir, esses sim são os aspetos sobre os quais as pessoas devem questionar.

JL – Um dos argumentos da oposição assenta na ligação familiar entre Jorge Magalhães e Pedro Machado e, ainda, no “emprego familiar” existente na CM de Lousada. Poderá esse argumento prejudicar Pedro Machado nas eleições?
NO: Não. Se isso é o argumento – e está a ser o argumento – pobre PSD de Lousada, e isto porquê?! Porque também há funcionários na CM de Lousada que são familiares de pessoas do PSD e que são familiares do CDS e elas estão perfeitamente visíveis e não há problema nenhum. 
Portanto, isso é sempre uma falsa questão. 
Esse argumento em volta de Pedro Machado é uma questão que só foi levantada agora, não foi levantada em 2005, por exemplo. E porque é que não foi levantada em 2009?! Eu relembro, como já relembrei várias vezes, que Pedro Machado foi eleito pelo povo. Não foi lá colocado por ser familiar de ninguém. 
O povo escolheu-o, neste caso, para número dois. (...)
Eu não gosto muito de falar dessa posição da JSD, mas foi desprestigiante aquela atitude do “emprego familiar” na Assembleia Municipal e que depois até foi completamente rebatida por Jorge Magalhães, que explicou tudo muito direitinho e de forma clara. Eu não sei porque é que, quando essa situação se levantou, não tentaram apurar a legalidade disso! 
Eu sei que eles acham que é legal, mas continuam a falar nessa situação, mas esses argumentos são pobres. Se vamos discutir Lousada por esses argumentos, no PSD também existem várias relações familiares. 
O Presidente do PSD é irmão de um deputado do PSD… Não há problema nenhum! Qual é o problema nisto? 
Num dos poucos concursos que houve agora para a CM de Lousada, eu estive a ver a listagem e uma das pessoas que entrou é familiar de um membro do PSD de Lousada e a meu ver isso não é problema nenhum. Infelizmente estão agarrados a essa ideia. É uma estratégia que só a eles diz respeito.

JL – O PSD tem ânsia do poder?
NO: Essa acusação tem fundamento, não é um chavões que poderiamos ter levantado. E essa acusação da “ânsia do poder” é muito fácil de explicar. Quando um partido começa a mentir deliberadamente ou a omitir a verdade, seja nas Assembleias Municipais, seja em comunicados … Eu relembro várias questões, como por exemplo, a questão dos “mil funcionários”… Está mais do que comprovado que a CM de Lousada não tem mil funcionários. Tem 357, mas estão sempre a bater na mesma tecla; a questão da dívida, que numa altura era de 20 milhões, mas que depois passou a 22 e a 25 milhões… e nós efetivamente sabemos que a dívida de Lousada é de oito milhões ponto qualquer coisa, ou seja, uma dívida baixíssima. Se formos a ver Paços de Ferreira, a dívida ultrapassa os cem milhões. 
Todas estas questões, ao nível da Reforma Administrativa, mostraram um PSD e um CDS completamente baralhados, sem saber quem deveriam respeitar mais, se haviam de respeitar mais os lousadenses ou se haviam de respeitar mais Miguel Relvas.

JL – Como caracteriza Leonel Vieira como candidato?
NO: Pedro Machado é melhor, sem dúvida. Eu não vou tecer grandes considerações, mas quando eu ouço – e baseando-me apenas na opinião formulada tanto pelo Presidente do PSD, como pela Presidente do CDS - ao falarem acerca do seu candidato, há ali notórias preocupações que os lousadenses não podem deixar de ter. 
Quando ouço o Presidente do PSD dizer que a lei não pode ser um impeditivo para um Presidente da Câmara atuar eu pergunto-me que partido e que candidato são estes?! Será um candidato que não vai cumprir a lei? Eu penso que não, mas a verdade é que isto foi dito. 
Por parte do próprio CDS viu-se também uma insegurança, mesmo em torno da Coligação e lá foi argumentado que Leonel Vieira é conhecido, mas pelos jornais. 
Eu sei que Pedro Machado é conhecido por todos os lousadenses! Se Leonel Vieira é conhecido como político, e toda a conotação que anda à volta do político, e através dos jornais é outra coisa. 
Por outro lado, as pessoas também não precisam de estar sempre a vangloriar-se pela sua atividade associativa. Eu relembro, por exemplo, que Pedro Machado é, há largos anos, Presidente do Conselho Fiscal dos Bombeiros de Lousada – porque ninguém fala disto? E ele não levanta grandes ondas em torno disso. Não precisa de dizer que estamos em todos os movimentos. Como eu disse, no início desta entrevista, eu próprio já pertenci a imensas instituições lousadenses, antes de sequer pensar em estar na política. Mas parece que muita gente não. Parece que muita gente está nas associações para depois conseguir usar isso como argumento a seu favor. 
Por exemplo, eu fui músico durante cerca de dez anos, na Banda Musical de Lousada, estou no hóquei, fui da Direção dos Bombeiros de Lousada, mas isso não é um argumento que uma pessoa possa usar para dar qualquer tipo de importância à sua candidatura. As pessoas veem-se pelo trabalho que fazem.

JL – Como classifica a posição da CM de Lousada relativamente à Reforma Administrativa das Freguesias?
NO: Aquilo que se passou foi completamente desprestigiante para a classe política. A posição do PS sempre foi uma posição frontal e única: nós somos contra a Reforma Administrativa. O que nós vimos por parte do PSD não foi isso. O que nós vimos por parte do PSD – e quem se lembra das últimas Assembleias concordará comigo – foi um partido instável que andou sempre de um lado para o outro com o seu parecer. Eu pergunto-me: «Que partido é este?». Se tinham uma proposta, apresentavam-na. Se a apresentassem, ela era votada e, aí sim, iríamos ver a quem se iria atribuir responsabilidades – porque para mim a responsabilidade é do PSD nacional. 
Se eles acharam que era redundante apresentarem ou não uma proposta, se calhar mais vale demitirem-se do seu papel de oposição, porque eles também foram eleitos por lousadenses para emitirem a sua posição. Eu penso – penso não, tenho a certeza – que os regimes democráticos não são totalitários, portanto se eles tinham alguma coisa para apresentar, apresentavam-na e não desistiam só por estarem em minoria e julgarem que esse parecer não ia ser aprovado.

JL – Está de acordo com este novo mapa?
NO: Completamente em desacordo.

JL – Ao não emitir uma proposta, Lousada não se terá perdido a oportunidade de evitar uma reorganização das freguesias a “régua e esquadro”?
NO: Perdeu-se a oportunidade de se fazer uma coisa bem feita como se fez, por exemplo, em Lisboa. E a meu ver nunca se poderia ter feito o mesmo, devido ao pouco tempo, devido à rigidez das regras que eram exigidas, devido a uma série de procedimentos que se teriam de adotar em cima do joelho. A Câmara pediu às Assembleias de Freguesia para ouvir os pareceres. 
Nós tentamos aquilo que sempre dissemos: ouvir as populações. 
Aliás, na nossa opinião, isso era algo que devia partir do Governo. Todas as Assembleias de Freguesias, à exceção de Caíde, tinham dito que não estavam de acordo. Portanto, nós próprios incitámos a ouvir a população de Lousada e a resposta foi: “Não queremos”. 
Sim, o Governo deu oportunidade de cada concelho apresentar o seu parecer, mas até mesmo essa “oportunidade” de dar um parecer tinha regras e o problema estava aí, porque eram regras muito restritivas que não iam ao encontro ao pensamento da maioria da população. Dizerem-me agora – e esta é a mais absurda de todas – que em vez da união de freguesias de Cristelos, Ordem e Boim podíamos ter só Cristelos e Ordem. Para mim é perfeitamente igual, porque juntar freguesias, sejam duas, três ou quatro. O que importava aqui era não se juntar nenhuma. 
Para mim, juntar a freguesia A,B,C ou D ou juntar a C e a F é igual, porque, partindo do pressuposto que a população não o quis e que nós estamos aqui para defender os interesses da população que votou em nós, qualquer junção deixa de fazer sentido, seja a junção de duas, três ou quatro freguesias.

JL – Mas, por outro lado, o seu partido é a favor da Reforma Administrativa…
NO: O meu partido é a favor da Reforma Administrativa nos sítios em que as pessoas votaram a favor. Guarda, Lisboa, Amadora… Posso dar uma série de exemplos em que se conseguiu fazer isso. Uma Reforma Administrativa com tempo seria minimamente pacífica – com tempo, mas com muito tempo mesmo. 
Como é lógico, também há o entrave da Troika, que exigiu aqui mundos e fundos, achando o seguinte «As freguesias são o parente pobre, portanto vamos atacar logo isto», mas com esta medida até a poupança não vai ser nenhuma.

JL – Na sua opinião, esta Reforma Administrativa irá ter influência nestas eleições? Poderão as eleições sair prejudicadas?
NO: Acho que o grande perigo destas eleições é a abstenção. 
A população está completamente descrente da classe política e dos políticos e não falo apenas a nível local – porque aí as pessoas até se conseguem envolver um pouco mais.
 Vou-lhe dar um exemplo. Esta situação da limitação de mandatos é um circo. Uma pessoa que não queira saber de política qual é a opinião que tem disto? Menezes e Seara… Porque é que eles têm de continuar? Quatro anos fora do poder custa assim tanto?
Jorge Magalhães é completamente a favor da limitação de mandatos. Aliás, em primeira mão, até posso dizer que neste último fim de semana a Comissão Nacional da JS e a JS tomaram uma posição oficial que foi baseada em duas moções da JS Lousada – duas moções importantes até para o país. 
Uma foi uma moção de limitação de mandatos transversal aos cargos públicos (eleitos, neste caso), sejam eles deputados, vereadores, presidentes de junta, etc. Tem que haver uma ética na política e isso foi aprovado. E, hoje, essa é a posição oficial da JS. 
Como também é o regime de exclusividade para os deputados, porque por exemplo, não se pode continuar a ter advogados de manhã na Assembleia da República a aprovar leis e depois à tarde estão nos seus escritórios a aplicá-las. Isto é inaceitável. Em Espanha, por exemplo, os deputados estão em regime de exclusividade. 
Outra questão, da qual não sou a favor e que também vai ser debatida, é a existência de deputados na Assembleia República sem experiência profissional. 
O que é que eles vão acrescentar? A pessoa pode ter estudado muito. Mas falta qualquer coisa. A Assembleia da República não pode ser um pouso de uma série de pessoas. 
Vamos pegar em exemplos: Mota Amaral. Há quantos anos está na Assembleia da República? E o mesmo se passa com deputados do PS (Miranda Calha), deputados do PCP. 
Tem de haver um pouco de ética e esta questão da limitação de mandatos, a diferença do “de” ou “da” é outra brincadeira. Se houvesse boa vontade política os tribunais escusavam de estar a sofrer estas pressões que estão a sofrer atualmente.

JL – Como vê a JSD do seu concelho?
NO: Eu não teço grandes considerações acerca da JSD. O que eu vejo, por exemplo, nas Assembleias Municipais e, infelizmente para a questão política concelhia, é uma JSD apática, sentada, para não dizer deitada ou em completa inatividade. Isto não é “puxar a brasa à nossa sardinha”, mas a JS nessas Assembleias é muito interventiva. Ainda vimos, na última Assembleia que para falar um pouco acerca do Plano Municipal da Juventude, não foi ninguém da JSD que foi lá falar… e, no entanto, eles estavam lá. Portanto, alguma coisa se passa. 
Quando falam muito em políticas de Juventude, falam nos Concelhos Municipais de Juventude… Mas, dou outro exemplo, na apresentação do Plano Municipal de Juventude não vi lá ninguém a mostrar a sua posição.

JL – Essa é uma crítica por parte da JSD, o facto de nunca ter sido criado um Conselho Municipal da Juventude.
NO: Eu posso falar-lhe sobre isso. Pri­meiro de tudo: os Conselhos Munici­pais da Juventude, antes de se dizer «Nós queremos!», é preciso saber o que são. E isso é uma diferença subs­tancial. 
Eu sou a favor dos Concelhos Municipais da Juventude, totalmente. Isso é um ponto assente. 
Sou contra a forma como estão previstos na lei, por um fator fundamental que é a inserção de juventudes partidárias nos conselhos municipais de juventude. As pessoas dizem que querem, sem saber em que é que isso consiste. 
Se lerem a maior parte dos estudos que há sobre a de­mocracia participativa (Shapiro, Milano), todos eles dão uma derrota abismal a todos estes conselhos municipais e aos orçamen­tos participativos – que também é uma coisa boa, mas quando levados com seriedade. 
Existe uma série de questões que deitam completamente por terra a utilidade dos conselhos municipais de juventude, de saúde, etc. 
A situação fundamental é que começa tudo com a melhor das inten­ções, uma participação da população, mas chega a um ponto em que há a tentação do domínio político e parti­dário e de colocar juventudes parti­dárias nos conselhos municipais de juventude, o que é contraproducente. 
Por exemplo, o orçamento participati­vo – de que há pouco falava – é bom e importante, a população pode escolhê-lo… Mas é preciso mais. É preciso ter em conta as verbas disponíveis. 
Vejo muitos concelhos, sejam PS ou PSD – aqui também critico todos – a fa­larem de verbas que estão na ordem dos 15 mil euros. O que é que um jo­vem pode dar como opinião ou como um orçamento participativo, quando vai escolher uma obra para ser feita no valor de 15 mil euros? Nada. Isto é brincar. Portanto, se vamos fazer isto como meras operações de cosmética, mais vale não fazer. Quando fazemos é com seriedade e em condições.

JL – A JSD também referiu que, nas últimas eleições, a maior parte das mesas de voto jovem foram ganhas pela JSD. Poderá isso repetir-se?
NO: Relativamente a 2009, muitos dos resultados que houve – e que ain­da assim foram arrebatadores para o PS – já se iam verificando, muito pelo descontentamento em relação ao Governo. Portanto, houve de certeza um voto de protesto. 
E este ano pode acontecer o mesmo, mas no sentido contrário, dado que somos liderados por um Governo Social Democrata. E acho que possivelmente irá acontecer. 
Sendo o PS de Lousada uma estru­tura pouco representativa nos órgãos nacionais, não se pode dizer o mesmo do PSD de Lousada. O PSD de Lousa­da é a cara deste Governo e isso nota-se nas Assembleias Municipais. Ainda na última, foi apresentada uma mo­ção da CDU contra a privatização das águas. A abstenção por parte do PSD e do CDS disse muita coisa. A questão das águas é uma questão importan­tíssima. Já ofereceram muitos milhões à CM de Lousada por ela, mas nós não a quisemos nem a vamos vender, por­que isso teria um custo brutal para as famílias lousadenses.

JL – Como vai preparar a JS a campanha nestas eleições?
NO: A campanha da JS é uma cam­panha proativa. O que eu vejo, e dada a nossa participação política, é que a JS não é uma Juventude de colar car­tazes. Faremos de tudo para ajudar a campanha, mas nós temos opinião própria. Não andamos aqui a toque de caixa do partido. (...)
O que eu noto é que as pessoas andam muito desatentas. Quando Sócrates estava a governar, nós fomos uma das principais vozes acusatórias das portagens na A42, por exemplo. Eu não tive qualquer problema em, diante do ministro da Economia, na altura do PS, chamar-lhe à atenção acerca disso e pô-lo ocorrente do nosso desagrado. Nós estamos aqui para defender os lou­sadenses e para ter uma estratégia concertada com o PS. Também não vale a pena dizermos que somos completamente à parte do partido ou uma estrutura independente. Não. Nós somos socialistas, nós temos orgulho em dizer que somos do PS. Estamos aqui para apoiar Pedro Machado no que for. 
Agora dizer que a nossa ação na campanha se vai limitar a co­lar cartazes, isso não. Nós queremos melhorar a nossa participação na Assembleia Municipal, nós queremos melhorar a nossa participação junto dos jovens, nós queremos estar pre­sentes nas listas de todos os órgãos eleitos, de todas as freguesias. Temos uma série de compromissos e atividades, como a visita a todas as freguesias, Quando dizem que somos uma Juventude de Gabinete, não é assim. Nós visitamos as freguesias todas, fizemos uma série de iniciati­vas não abarcadas no PS – nós é que levamos o PS connosco. (...)
Iremos continuar a dar ênfase à ques­tão social, principalmente agora. É importante a solidariedade. É grave quando achamos que andamos na caridadezinha, como às vezes pare­ce que muita gente assim o vê. E as funções das autarquias, a partir de 2013, terão que ser uma visão quase que silenciosa para com a solidarie­dade. As pessoas têm que ser ajuda­das, mas não tem que se fazer grande apanágio com isso. Esta é uma ques­tão essencial, relativamente à qual a JS terá um particular relevo e que eu sinto que estamos perante uma juven­tude responsável mediante, por exem­plo, o desemprego jovem e mediante o apoio social que tem que ser dado ás famílias. Toda a atividade política terá de ser também uma atividade si­lenciosa para com essas pessoas e até para que os possamos compreender.

JL – Era importante para a JS ter um dos seus elementos presente na equipa que irá compor a CM de Lousada no próximo mandato e que venha a tornar-se vereador?
NO: Importante é, mas nunca me verá nos jornais a dizer que o PS precisa de um vereador que seja da JS. Essa é uma questão que só cabe a Pedro Machado decidir. É algo positivo, mas não vejo isso como uma questão cen­tral. Estou contente com todo o traba­lho da JS ao nível de todo o plano po­lítico. Há uma notória necessidade de dar continuidade ao nosso trabalho na Assembleia Municipal e para isso também já assumi o compromisso de que será dado mais espaço aos jovens para discutir na hora, cara a cara,… pois é disso que nós gostamos.
Não é de nós escondermos atrás dos nossos líderes de bancada e não darmos a cara ou falarmos. Não. Nós queremos falar, queremos participar. É na casa da política que se faz política. É aí que se mostram as nossas iniciativas.
É aí e em todo o concelho, porque nós não precisamos de andar com uma ban­deira em punho em festas ou o que seja a dizer que somos da JS. Cada pessoa e cada militante é uma voz. Nós estamos presentes todos os dias, em todo o lado, em cada militante, em cada simpatizante. Nós temos muitas pessoas que são socialistas, mas que não são militantes. O PS de Lousada é a própria personificação disso mes­mo. Mas importa referir que ser ou não militante é algo acessório. Quem quiser ser militante é, quem não qui­ser não é.

in: Jornal de Lousada