1. Como hoje até as pedras da calçada devem saber, José Sócrates declarou, a propósito da morte de Eusébio, que se recordava do jogo com a Coreia do Norte porque só soube da reviravolta no marcador a favor de Portugal quando chegou à escola.
2. Alguém "descobre" que, como o jogo foi ao sábado e perto do final de Julho, Sócrates só podia estar a mentir.
3. A magna questão é retomada com grande destaque e gulosamente (já é hábito, naquela publicação) por um jornal diário.
4. Transforma-se, também por isso, num tópico "jornalístico" de relevo.
5. Um que se diz colega de escola de Sócrates declara nesse jornal que é falsa a afirmação de Sócrates, porque se recorda, com estes olhos que a terra há-de comer, que a escola estava fechada.
6. Hoje, um que se diz colega de Sócrates contrapõe, na última página de outro jornal diário, que se recorda com estes olhos que a terra há-de comer que Sócrates estava na escola nesse dia, e que o primeiro que se diz colega é mentiroso, nem aliás podendo garantir que o outro indivíduo seja ou tenha sido colega de escola dos dois (dele e de Sócrates).
7. A história, entretanto, tem excitado sobremaneira os campos anti- e pró-Sócrates, que terçam "argumentos" com dedicadíssima paixão.
8. Duas conclusões: a) Sócrates tem mel; b) o jornalismo português, como se vê, está de excelente saúde e recomenda-se.
Azeredo Lopes