Afinal, o que é que realmente se anda a discutir?

Esta semana, algures na Assembleia da República, deputados da bancada do PSD, lembraram-se de levantar uma lebre que já há algum tempo estava aquietada e em dormência: a co-adopção e adopção por casais do mesmo sexo.
A ideia consiste em perguntar aos cidadãos se concordam com a CO-ADOPÇÃO (projeto de lei já aprovado em Maio do passado ano) e ADOPÇÃO de crianças por casais homossexuais. A pratica disto, em termos afectivos, já acontece desde há muito tempo, e toda a gente sabe que assim o é, apenas não está reconhecida pela lei. Aliás, até há bem pouco tempo, pouco ou nada era dito sobre estas mesmas crianças na comunicação social. Criou-se aqui uma espécie de pausa no desconhecido, para criar um odio ao recém apreendido.
Com a possibilidade de se referendar esta matéria abrem-se brechas sem precedentes no tecido social português, por vários motivos: se por um lado estamos a pôr em causa uma coisa que existe, que é real, estamos, por outro a esquecermo-nos de uma coisa conhecida como Constituição da República Portuguesa onde está consagrado a proteção dos interesses dos cidadãos independentemente de serem minorias ou não (artigo 13.º da Constituição), e ainda a legalidade constitucional do referendo, dado que se está a referendar sobre assuntos da alçada da Assembleia da República e abordar mais do que um tema (artigo 115.º, artigo 161.º e artigo 164.º). Continuar com esta loucura é mostrar que existem portugueses de primeira e de segunda, coisa que tanto se insiste em negar, tal como as crianças com pais do mesmo sexo.
Acho curioso como num país como o nosso ainda há pessoas (e partidos) que vivem um horror aos homossexuais, e que cada vez mais mostram que a direita é retrógrada, antiquada, fora de moda, preconceituosa e não avança com o passar dos anos. Pelo andar da carruagem estaremos a referendar o papel das mulheres no voto. Atrevo-me a dizer mais, um país que quer referendar sobre a vida privada de uma minoria, e não referenda sobre os interesses de todos os portugueses (vulgo as privatizações e negócios “estratégicos” como lhes chamam) está um patamar mais próximo da decadência.
Cada vez mais percebo porque é que ainda se ouve (mais espaçadamente que outrora) “o que fazia falta era um novo Salazar”. Quando os próprios políticos vão em direção aos tempo de antigamente, o país não pode progredir, nem ao nível social nem ao nível económico.