Quanto mais se esconde...


“Se queres manter um segredo o melhor é falares dele publicamente.” O que aparentemente parece uma contradição foi das melhores lições que aprendi com dois assessores dos mais poderosos homens do mundo. Um trabalhava com Tony Blair enquanto primeiro-ministro britânico e o outro com Bill Clinton enquanto presidente dos Estados Unidos. Ambos tiveram de lidar com situações embaraçosas na imprensa mundial e souberam sempre transformar os problemas em soluções a favor dos respetivos líderes.

Em Portugal, apesar das lições do passado, os políticos e alguns grupos económicos e financeiros parecem fazer exatamente o contrário. Perante uma situação complicada ou embaraçosa na imprensa, não falar e não responder aos jornalistas tem sido a regra mais utilizada. Escusado será dizer que quanto mais se evita falar e esclarecer os assuntos nos jornais e nas televisões mais eles se tornam gritantes. Enfiar a cabeça na areia para esperar que a notícia passe depressa e desapareça, não funciona. Acontece precisamente o contrário e vai atiçar ainda mais a curiosidade e as investigações dos jornalistas.

Dois casos bem elucidativos do que acabei de descrever estão a acontecer em Portugal. Uma verdadeira caça ao homem feita aos membros da Maçonaria em Portugal mostra bem este efeito. O secretismo e a tentativa dos nossos políticos de ocultar se pertencem ou não a uma sociedade secreta provocou uma curiosidade exagerada e colocou o assunto em destaque nos media. Acabou por aparecer em todas as primeiras páginas o que se queria esconder e ainda por cima passando a ideia, mesmo que errada, de que na realidade algo menos lícito estava mesmo a ser escondido. Ora tudo isto teria sido evitado se, desde o primeiro minuto, os alegados membros da maçonaria tivessem falado do assunto com um sorriso na cara, em vez de negarem tudo com ar indignado. O que poderia ter sido notícia por um dia acabou por ser um assunto que se arrasta há semanas.

O segundo exemplo é o do grupo Jerónimo Martins. Uma decisão comercial mais do que legítima e natural de se mudar para a Holanda transformou-se em acusações de falta de patriotismo e obrigou a empresa a distribuir panfletos de esclarecimento aos clientes. Se nas primeiras horas em que a notícia foi conhecida tivessem sido dadas respostas e feitos esclarecimentos públicos ter-se-ia evitado grande parte do alarido e dos danos já causados.

Para mudar esta situação no nosso país será necessário muito mais do que bons assessores. É preciso maturidade para, de uma vez por todas, olharmos para o jornalismo como um meio para esclarecer e não como um palco… para combater.

João Adelino
Pivô e jornalista da RTP
in Dinheiro Vivo