Eu, democratizado


Raramente paramos para sentir a importância de sermos democratizados, um pouco como a liberdade é um estado que apenas valorizamos quando nos privam dele. 

Vivemos confortavelmente, sem nos apercebermos, da teia ideológica que nos envolve e firma o tecido social que nos acolhe. Esta teia permite hoje que cada um possua uma capacidade impar de ressoar o eco da sua opinião. 

Já vão longe os tempos em que nos limitávamos a receber um fluxo interminável de informação, cada individuo tem o poder de se tornar num meio de comunicação, quase como um jornal ou canal de televisão. As nossas páginas pessoais nas redes sociais, são montras onde expomos as nossas ideologias, projeções daquilo que acreditamos ser ou queremos ser. 

Convencemos o consumidor a querer explorar a nossa vida, construímos cenários e temos uma voz presente e ativa, facilmente acessível quer por computador ou por telemóvel, em casa ou na rua. Falamos diretamente com os nossos dirigentes, com os nossos ídolos ou referencias, somos capazes de entrar nas suas rotinas e isto faz-nos sentir erradamente mais seguros, menos expostos por acreditarmos conhecer todas os pormenores que até então dificilmente teríamos acesso. 

Andamos perdidos numa era de revolução comunicacional, as personalidades que criamos no mundo digital tendem a perder rapidamente a ligação com os nossos valores morais, esquecemo-nos que a nossa liberdade termina onde a dos outros começa. 

É urgente refletir sobre a nossa postura na internet, afinal é um reflexo do que somos e tudo o que pomos lá dentro rapidamente vem cá para fora.

Artur Coelho
in: TVS