Estudo Falseado

A região foi surpreendida, há semanas, com a divulgação de um suposto estudo da Universidade da Beira Interior que estabelecia uma classificação dos concelhos do país por nível de qualidade de vida. Lousada era dos mais desfavorecidos, surgindo em lugar pouco honroso, facto lamentável pela completa falsificação da realidade.

A pretensa investigação enferma, desde logo, de um duplo erro. Por um lado, no tocante aos critérios em apreciação – alguns abstrusos, outros incompletos, outros desatualizados e uns quantos omissos, mas tudo metido num imenso e indiscriminado saco estatístico; por outro lado, os resultados finais contrariam aquilo que uma simples observação empírica rapidamente constata. Aliás, os próprios investigadores não deixam de revelar perplexidade por algumas conclusões, quando seria mais sensato reconhecer a dificuldade em justificar ilações disparatadas…

Considerar como elemento de qualidade de vida o número de linhas telefónicas – quando a predominância de telecomunicações móveis se afirma com natural evidência – ou o número de farmácias num determinado concelho – ignorando o serviço prestado por outras só porque localizadas num concelho limítrofe – é desvirtuar completamente o quotidiano. Do mesmo modo, é despropositado contabilizar apenas o volume de investimentos autárquicos na animação cultural sem ponderar o equilíbrio, sustentabilidade e distribuição anual da programação. Aplicar 200 mil euros em cantores pimba numa festa é bem diferente do que investir 100 mil euros numa programação equitativa e de qualidade ao longo do ano. Para os investigadores, qualidade de vida é a primeira hipótese. Contabilizar o número de recintos culturais e desportivos sem curar da dinâmica desenvolvida poderá constituir um trabalhoso exercício aritmético, mas claramente insuficiente para uma aferição honesta da realidade.

Alguma comunicação social, mais acrítica e excitada com números sugestivos e conclusões altissonantes, pronta a alinhar em campeonatos nacionais de qualquer coisa, deu pleno acolhimento a um “ranking” falsificado, que professores da Universidade do Porto consideraram já uma vergonha para a Universidade Portuguesa e, especialmente, para a Universidade da Beira Interior.

Alguns membros da oposição ensalivaram porque lhes pareceu servido o prato da maledicência. Poderiam recusar, como fizeram muitos lousadenses, nomeadamente inquiridos por um jornal local, distanciando-se de conclusões que o quotidiano desmente. Mas, para alguns, quanto pior melhor. Redes de acessibilidades, de água e saneamento básico, equipamentos e programas educativos, culturais e desportivos, serviços hospitalares e de saúde, oferta habitacional a preços mais acessíveis, equilíbrio urbanístico, políticas sociais, crescente afirmação turística: é largo o espetro do desenvolvimento. Só não vê quem não quer… ou pretende estar mal informado.



Eduardo Vilar


in Verdadeiro Olhar