Hoje Portugal ‘foi aos mercados’. A república Portuguesa conseguiu vender 2500 milhões de euros em dívida pública com uma taxa de juro de 4,891%. Isto são, indesmentivelmente, boas notícias. Não significam o fim da austeridade nem dos cortes brutais no nosso estado Social, não significam mudanças fundamentais para os cidadãos Portugueses que continuam com dificuldades, mas são boas notícias.
Com estas notícias o Governo (e respectivos apêndices parlamentares) reclamou vitória, falou do ‘colossal’ sucesso do nosso programa de ajustamento, do excelente trabalho do Governo e de quão perto estamos agora de conseguir ter o FMI ‘de aqui para fora’ e recuperar a nossa soberania (e de caminho o nosso orgulho ferido). Ora, na sua maioria, o sucesso desta operação depende pouco do Governo que a única coisa que tem para mostrar é uma consolidação orçamental incipiente, uma dívida pública nos 120% do PIB (notícia também de hoje, mas a que ninguém ligou nada, agora já não importa, os mercados parecem já não estar obcecados com a dívida pública) e uma brutal recessão que tornam a nossa solvência financeira cada vez mais uma miragem. O grande responsável é o BCE que se disponibiliza a comprar no mercado secundário (ou seja a quem nos comprou a dívida) a nossa dívida pública enquanto continuarmos a fazer o que eles dizem. Ou seja, o FMI pode sair do país que a austeridade está para durar. Ainda assim são boas notícias, é melhor do que não termos conseguido, mesmo nestas condições, colocar dívida pública nos mercados financeiros.
Portanto, apesar de tudo parece que o saldo do dia é positivo, do mal o menos.
Este era o raciocínio que eu tinha feito para mim mesmo quando fui jantar, acontece que enquanto eu jantava a senhora Secretária de Estado do Tesouro estava a dar uma entrevista e eu tive um daqueles momentos ‘diz-me, por favor, que estás a gozar’, já vos aconteceu de certeza. De forma simples, o que a Senhora Secretária de Estado do Tesouro disse foi que nós fizemos esta operação de financiamento de forma a dar um sinal claro de que éramos capazes e, perante a insistência do jornalista, ela explicou que não tínhamos necessidades de tesouraria ou de financiamento mas que ainda assim decidimos fazer esta operação.
Ou seja, se eu entendi bem o que a senhora disse, a república Portuguesa ‘foi aos mercados’ pedir um empréstimo, pelo qual vai pagar juros, de dinheiro de que não precisa com o único objectivo discernível de permitir ao Governo anunciar com pompa e circunstância que é capaz de o fazer. Para ser mais claro, o Estado, ou seja, todos nós, vai pagar um pouco mais de dez milhões de euros por mês em juros por dinheiro de que não precisa para que o Governo possa fazer um brilharete.
Tenho de conceder que, de facto, este é um dos golpes de marketing político mais eficazes que tenho visto, mas é também, seguramente, um dos mais caros.
Isto, meus amigos, não tem outro nome, é simplesmente a Twilight Zone…
in: quando os lobos uivam