O Ponto de Viragem que seria 2012 (e foi... para pior)

"Vítor Gaspar prometeu, no dia 17 de Janeiro, que 2012 iria marcar um ponto de viragem. Marcou. 
 
Um ponto de viragem para mais de um milhão de portugueses desempregados; um ponto de viragem para os milhões que ainda têm emprego mas têm ordenados em atraso ou cujo rendimento não chega para as despesas; um ponto de viragem para os milhares de empresas que foram falindo ao longo do ano; um ponto de viragem para os milhares de desempregados que estavam a receber subsídio de desemprego e deixaram de receber; um ponto de viragem para os milhares de portugueses, novos e velhos, que se viram obrigados a emigrar deixando para trás a família e a terra que os viu nascer; um ponto de viragem para os milhares de familiares de quem parte, mulheres e filhos de emigrantes que nunca pensaram que Portugal iria voltar aos anos 50 e 60; um ponto de viragem para centenas de milhar de pensionistas que ajudam a equilibrar as contas mensais de filhos e netos e que viram as suas contas encolher ainda mais com os cortes e aumentos de impostos; um ponto de viragem para os que já eram pobres antes da crise e que agora tem de depender da caridade alheia para conseguir sobreviver; um ponto de viragem para os milhares de crianças da antiga classe média que agora vão para a escola de barriga vazia; um ponto de viragem para os milhões que acharam que os valores da liberdade, da democracia e do bem estar social seriam perenes e que nenhum político, nenhum Governo se atreveria a tocar neles; um ponto de viragem para a própria democracia, que viu multiplicar os actos de violência policial, as perseguições políticas, os julgamentos de inocentes como modo de intimidação; um ponto de viragem para a liberdade de expressão, ameaçada por pressões económicas e políticas sobre jornais e outros media; e um ponto de viragem para a esperança que, de ano para ano, ainda nos fazia acreditar nas pessoas que elegemos e que nos foram governando, para a esperança de que os nossos filhos iriam viver melhor e com mais liberdade e garantias do que nós.


E sobretudo 2012 foi um ponto de viragem para os grandes homens e mulheres do país: para Eduardo Catroga que conseguiu o lugar que há muito merecia e para Isabel Jonet, que cavalgou a trip mediática da sua vida à conta da pobreza. 
Para José Luís Arnaut, que ganhou o seu merecido lugar na REN, e para o Dr. relvas, que vai conseguindo orientar a sua vida para os tempos que se seguirão ao Governo. 
Para Oliveira e Costa, que continua livre da prisão, e para o reformado Cavaco Silva, que continuará livre da investigação enquanto continuar a promulgar os Orçamentos de Estado deste Governo. 
Para Dias Loureiro, que vai para o Brasil passar um fim-de-ano de luxo com o dinheiro que os contribuintes portugueses injectaram no BPN, e para todos os responsáveis das PPP's que continuam a ter as suas rendas asseguradas. 
Para os bancos portugueses, que receberam milhares de milhões de recapitalização (cujos juros somos nós que pagamos) apenas para que pudessem voltar a ter lucros e a distribuir dividendos pelos accionistas. 
Para Paulo Portas, que enquanto se mantiver a coligação viva, poderá continuar a ver sobreiros e submarinos submersos. E sobretudo um ponto de viragem para Pedro Passos Coelho, adorado pela manada de bovinos sabujos até ao fim e odiado pela maioria. Mas não importa, porque a Passos Coelho não interessam as eleições, a legitimação do povo. Quando a limpeza acabar, não faltarão lugares nas administrações das empresas que agora estão a beneficiar dos negócios que o Governo está a fazer. Uma Tecnoforma ou uma qualquer Fomentivest esperam por ele. 
 
O ponto de viragem já aconteceu, está a acontecer, vai acontecer. Vítor Gaspar está de parabéns. Estamos todos."
 
Sérgio Lavos - Arrastão