"Mas Afinal..."



Andamos a gastar dinheiro que não tínhamos, certo? Pedindo-o emprestado para suportar uma economia que crescia pouco, certo? E depois, o Estado andou a gastar, ao longo de duas décadas mais que podia, não é verdade? 

Depois veio a necessidade de um “resgate”, ou seja, a necessidade de nos emprestarem um quantidade abismal de dinheiro para conseguirmos pagar salários, pensões e garantir as funções do Estado. Esse resgate teve o apoio da maioria da população através de um sufrágio onde os partidos que suportaram o acordo tinham uma maioria expressiva. 

Até aqui, eu entendi e, com mais ou menos dificuldade (até porque o mal já foi/está feito), lá acabei por me consciencializar que, sendo português e não querendo deixar de viver em Portugal, terei de suportar o “esforço de guerra”. Tenho de “comer e calar” como se diz. Não há problema, “o que tem de ser tem muita força”… 

- Mas olhem, será possível aliviar um bocadinho esta carga? É que isto assim é muito forte e já nem me compensa andar a trabalhar… Estive a fazer contas e o Estado, entre impostos e contribuições, leva-me mais de 60% daquilo que eu ganho. Não é possível negociar os prazos do “resgate”? Ó Passos, vê lá isso, que estás a ir mais longe que a Troika e eu acho que devíamos estimular a economia para conseguir pagar… Sabes, é aquela cena da curva de Laffer, que diz que quanto maior a carga fiscal, menor a quantidade de impostos arrecadados. Lembraste disto das aulas na Faculdade? Bem visto, não acabaste o curso há muito tempo, ainda te deves lembrar.
- “Não vou renegociar memorando, porque este representa segundo programa” – TVI, 28.11.2012
- Tens a certeza? Olha que quando as pessoas virem os recibos em Janeiro e Fevereiro de 2012, depois da aplicação das novas taxas de retenção, vão-se passar… Tens mesmo a certeza?
 
[Dias depois]
Olha, olha! Queremos que alarguem os prazos dos empréstimos? Mas quem? O Governo? Sim…
Ah… Mas afinal, não eram vocês que queriam ser mais “troikistas que a troika” e sempre rejeitaram que o memorando fosse objecto de renegociação e aplicação à realidade social e económica do país? É que aumentar prazos é, tanto quanto se saiba, renegociar… 

Porque é que, asnaticamente, isto não foi feito já há mais tempo? Tanta treta para isto? Porquê? Explica-me, que eu quero saber, se faz favor!

João Correia
in: Jornal de Lousada