"Venho por este meio demonstrar a minha
inquietação. Não só pela perfídia classe governante deste país, não só
pela crise e não só pelo futuro que ao povo pertence se desejar pelo
menos tê-lo. Transtorna-me o vácuo e os patrões do situacionismo que,
ora sofrem de partidite aguda, ora entopem o agendamento mediático com
fait-divers e, porque não, com mediocridade. Em momentos excepcionais da
dialéctica intrínseca dos povos impõe-se ardor e crítica do espírito do
tempo. Um mínimo de bom-senso é suficiente para percebê-lo. Custa-me
ver que certos interlocutores com visibilidade mediática quanto baste
façam do seu uso um desperdício de tempo para nós, cidadãos e cidadãs.
No dia de ontem tive acesso a um pedaço
de incomensurável demagogia, a degeneração da democracia categorizada
por Aristóteles. Ele sabia bem o que escrevia ao contrário do(s)
autor(es) da resposta à Carta Aberta que pede, e bem, a demissão do
primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Este documento é fruto do
matrimónio entre falácias e sofismas.
A resposta da Juventude Social-Democrata
transparece a amargura de quem se sente traída e abandonada em pleno
altar. Após convite para a sua Universidade de Verão e tendo em conta o
seu passado de governação em sinergia com o FMI, como se atreve o Dr.
Mário Soares a pedir a demissão do seu querido e fanático líder de
Governo? Eles perguntam-se como é que o seu plano não funcionou. Como é
que não conseguiram colar a intervenção de 1983 a esta e obrigar o PS
assumir também todas as medidas estúpidas deste Governo? O transtorno é
tal que se sentem na obrigação de citar o Rei de Espanha num dos
episódios mais tristes da Casa Real Espanhola: «porque não te calas?».
Uma citação ao nível do que ainda viria a ler: putrefacto.
Mas toda esta raiva finalmente libertada
não tem limite. Logo de seguida dizem que «não é lícito recusar em
apoiar um combate que está para lá das ideologias e dos partidos, porque
se insere na defesa da democracia, da liberdade e da justiça social,
que são património comum de todos os verdadeiros patriotas. Trata-se, em
suma, de defender o país e o regime». Enfim, descodificando: “nós somos
donos da verdade e apenas há um caminho! O próprio Fukuyama já tinha
alertado para o Fim da História. A democracia é a inevitabilidade do FMI
e dos restantes membros da Troika que tanto têm feito pelos países alvo
de intervenção. Não há ideologias. Temos de nos sujeitar à fome,
miséria, precariedade e pagar a dívida da banca e juros agiotas. Só
assim cresceremos”. Cresce a dívida pública mas diminui a noção do
ridículo. Em seguida, num exercício que me faz suspeitar de complexo de
superioridade ou de psicose política, a dita juventude política arma-se
de moralismo bacoco e desafia Soares a abdicar de apoios à fundação, da
sua reforma e das suas regalias. Só não percebo porque personalizam o
ataque a Soares quando outros nomes bem insuspeitos também o assinam.
Penso que a estrutura de jovens do maior
partido da coligação não percebe o essencial do coro de críticas. A
questão não é que Troika queremos, mas sim que política. E nesta questão
não existe hierarquia patriótica ou interesses superiores. Quem
estabelece os interesses é a classe governante eleita, e neste caso é
composta por secretários de Estado da Troika que necessitam injectar
fundos na banca privada, cientista que criou o Frankenstein da dívida
privada. Daí termos de aguentar tudo, segundo Ulrich.
Eles querem que nos calemos. Mas eu,
assim como muitos dos que se opõem a esta política, recuso-me
veementemente. E acrescento que direcciono a crítica a todos aqueles que
não pretendem uma alternativa ao memorando. Para finalizar, devo ainda
ressalvar que assim como o Rei Juan Carlos mandou calar Chávez quando
este falava do fascismo e colaboracionismo de Aznar no Golpe de Estado
que tentou derrubá-lo em 2002, a JSD também pede silêncio para que a
mentira da ajuda financeira prossiga a sua verdadeira intenção: realizar
um golpe de Estado sobre a Constituição da República Portuguesa."
Frederico Aleixo