Por João Ferro
Sobre a famigerada “Prova de Avaliação de Conhecimentos e
Capacidades” (PACC) de professores, e sob o título “ A estupidez à solta”, Vasco Pulido Valente escreve um artigo no Público em que desanca completamente
o Dr. Crato, suplicando que “Deus lhe dê juízo” e acabando por lamentar que “Uma
pessoa pasma como indivíduos com tão pouca educação e tão pouca inteligência se
atrevem a “avaliar” alguém.
Criticando e desmontando diversas
perguntas da PACC, nomeadamente a pergunta em que os professores mais falharam- “O seleccionador
nacional convocou 17 jogadores para o próximo jogo de futebol (para que seria? Pergunta VPV). Destes 17 jogadores, 6 ficarão no banco como
suplentes. Supondo que o seleccionador pode escolher os seis suplentes sem
qualquer critério que restrinja a sua escolha, poderemos afirmar que o número
de grupos diferentes de jogadores suplentes (é inferior, superior ou igual) ao número de grupos diferentes
de jogadores efectivos” – comenta da seguinte forma: “excepto
se a palavra “grupo” designar um conceito matemático universalmente conhecido,
a pergunta não faz sentido. Grupos de quê? De jogadores de ataque, de médios,
de defesas? Grupos dos que jogam no estrangeiro e dos que, por acaso, jogam
aqui? Não se sabe e não existe maneira de descobrir ou de responder. O dr.
Crato perdeu a cabeça”.
Lembrei-me, então, dos velhos
tempos de Coimbra, mais concretamente, da greve dos estudantes de 1969. Coimbra
estava em estado de sítio. Soldados da GNR, a pé e a cavalo, e de outras forças
policiais, enchiam a cidade. Muitos de nós conversávamos, em grupos na Praça da República, sobre a situação e
comentando as notícias que nos iam chegando. Dizia um: Acabei de ouvir agora
uma comunicação do ministro da educação, o Dr. José Hermano Saraiva. Disse em
tom severo e ameaçador, com os olhos esbugalhados, fixando a câmara e de dedo em
riste, que “os estudantes podem regressar a Coimbra e às aulas, pois a "ordem" será inexoravelmente mantida”.
Foi então que apareceram dois
soldados da GNR, e, dirigindo-se ao grupo em que eu me encontrava, disse um deles com ar
de catedrático e voz autoritária, brandindo na sua mão direita o cassetete e
apoiando a esquerda no coldre da pistola: “É
proibido andar em grupos de mais do que um”.
Perante esta interpelação tão
direta, clara e inteligente, não tivemos outro remédio senão dispersar e, cada
um de nós, ir à sua vida.
Tivesse o Dr. Crato demonstrado
a clareza, o discernimento e a inteligência do referido soldado, acrescentando,
por exemplo, “não ser permitido formar grupos de mais do que um”, e, a pergunta,
passaria a fazer sentido. A pergunta, porque, quanto ao ministro, começa a não
fazer muito sentido a sua permanência no Governo. Ou melhor… Se calhar, neste
governo, até faz!