Uma lição grega: os partidos também morrem

Tiago Barbosa Ribeiro
As eleições gregas levaram o Partido Socialista grego (PASOK) praticamente à extinção. Este partido dominou a paisagem política do país desde o fim da ditadura e teve seis maiorias absolutas entre 1981 e 2007. Foi um pilar do sistema político grego até que a sua resposta à crise, decalcando o pensamento e a ação dos partidos da Direita, conduziu ao colapso da Grécia (queda de 25% do PIB) e à autodestruição do PASOK. Hoje é a 7.ª força política grega.

O PASOK tornou-se dispensável perante o eleitorado grego porque deixou de oferecer respostas alternativas no quadro dos valores da social-democracia e os socialistas votaram maioritariamente no Syriza.

O drama do PASOK acompanha a implosão da Esquerda democrática filiada na Internacional Socialista em tantos outros países europeus, mas a derrota começou muito antes.

Iniciou-se pela crença de que havia uma adesão mais ou menos perene a partidos sistémicos, mas os vínculos emocionais por acontecimentos marcantes (ex: transição democrática, adesão à UE, etc.) contam cada vez menos. Por outro lado, muitos partidos socialistas assumiram a sua própria derrota ideológica antes de perderem nas urnas, aceitando gerir um sistema socioeconómico cada vez mais desigual em vez de o transformar.

A cedência ao realismo impossibilista dos partidos da Direita levou muitos socialistas a uma mera gestão das circunstâncias no quadro das regras impostas por terceiros, estranhas aos seus valores. Aí foram incapazes de perceber a armadilha em que se colocaram perante os liberais, reproduzindo uma angustiante falta de respostas. Quantos socialistas não olham para a função governativa nos limites estritos das balizas do tratado orçamental e de regras europeias que, como todas as regras e tratados, devem ser alterados quando deixam de servir os povos?

Ora, o PASOK deixou de cumprir a sua função histórica ao assimilar o eco do falso extremismo perante medidas que há poucos anos seriam consideradas sociais-democratas: maior regulação pública, reversão de privatizações de setores estratégicos, aumento do salário mínimo, mais progressividade fiscal, impostos pesados sobre grandes fortunas, forte taxação de heranças, reestruturação de dívida usurária que abafa o desenvolvimento.

Pensando como a Direita, os socialistas do PASOK acabaram a governar como a Direita, formatando-se aos maneirismos dos eurocratas. Preferiram abdicar de transformar as relações entre capital e trabalho (em favor deste), anulando o seu papel nas sociedades modernas. Com isso deixaram de ser úteis como instrumento de mudança social para muitos socialistas gregos, que votaram no Syriza com uma genuína expectativa de mudança.

Os socialistas do PASOK não são caso único e cabe a outros confirmar a mesma sentença ou escrever outro desfecho.

Sim, os partidos também morrem.

* MEMBRO DA COMISSÃO NACIONAL DO PS
in: JN