A Tragédia Grega de José Rodrigues dos Santos



José Rodrigues dos Santos foi à Grécia fazer a cobertura das eleições e deixou-nos uns contos infantis sobre um país de taxistas que alegam cegueira para sacarem o subsidiozinho, um povo de falsos paralíticos, um país com uma piscina em cada casa, um pedaço de terra onde vivem uns bandalhos preguiçosos que vivem às custas da germanofilia e que ainda têm férias pagas em hotéis de 5 estrelas.
 
Ele percebeu isso tudo em 3 ou 4 dias na velha Grécia, onde também ninguém paga impostos. A chusma vigilante que por aí anda a vergastar nos pobres e nos habilidosos (eles farejam os malandros à distância, não sabiam?) não perdeu tempo a apoiar o escritor. 
Eles são os fiéis da purificação moral de Rodrigues Santos. 
 
Também são a favor da justiça popular, da pena de morte e de tudo o que os ultrapasse em bafio. São os algozes do Estado social, os reprodutores do senso comum mais básico e miserável, os figurantes forçados de um país atávico onde só eles são as forças motrizes da produtividade, da honradez e do viver habitualmente que os esquerdalhos querem virar do avesso. 
 
Pena que o jornalista e a claque se tenham esquecido de falar dos 10% de gregos que passam o Inverno sem electricidade em casa porque não têm como a pagar, os 28% de desempregados, os mais de 50% de desempregados jovens, os que ficam sem acesso ao sistema de saúde com desemprego de longa duração, a pobreza de um terço dos gregos, o falhanço absoluto de anos sob os ferros da austeridade redentora. 
 
O homem esqueceu-se de tudo isso, dando razão aos básicos que por aí se erguem com preconceitos indesmentíveis contra os funcionários públicos e contra a RTP em especial, favorecendo a sua privatização. 
 
Ou, já agora, à quantidade de argumentos xenófobos, preguiçosos e ignorantes que se lançam contra a generalidade dos países do Sul da Europa. Rodrigues dos Santos é tudo isso. 
O inferno são os outros, não é?
 
Tiago Barbosa Ribeiro