Em Novembro de 2008, o Diário de Notícias
fazia a radiografia do BPN. Entre os vários dirigentes do PSD, surgia o nome de um: Rui Machete. Era Presidente do Conselho Superior da SLN Valor, que detinha do BPN.
Apesar deste órgão não ter poderes de gestão, faziam parte dele alguns
dos maiores acionistas, o que levava o jornal a escrever que era "inequívoco o seu peso na gestão da SLN e, por maioria de razão no banco agora nacionalizado pelo governo"
.
O Conselho Consultivo tinha poderes de fiscalização que, tendo em conta o indicreto regabofe que ali se vivia, não utilizou.
Quem criticou, e muitíssimo bem, o prémio dado a Vítor Constâncio na
ida para o BCE não pode, se for sério, ficar indiferente a esta
nomeação. Ainda mais, tendo a conta a experiência de Machete, que fora,
no início dos anos 80, administrador da principal entidade fiscalizadora
da atividade bancária, o Banco de Portugal.
Depois de Franquelim Alves, a nomeação de Rui Machete é a segunda viagem das profundezas do BPN para o governo.
Agora, o destino é o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Independentemente da opinião que cada um tenha de Machete, ela revela
como não há, no PSD, qualquer tipo de distanciamento em relação à história daquele banco, intimamente ligada ao partido e ao circulo próximo do Presidente da República. Se tivéssemos alguma dúvida, a privatização ruinosa do BPN, com a entrega, quase de borla e com tudo limpo, ao banco gerido por Mira Amaral chegaria para nos esclarecer.
Na política, a imagem que o poder dá de si próprio é
fundamental. Um governo que vai absorvendo quadros de um grupo
financeiro que causou um rombo ao Estado de milhares de milhões de euros
e que devia ser tratado como um caso de polícia é uma mensagem clara
para aos portugueses: aqueles que, por ação ou omissão, permitiram
este desastre são, para nós, pessoas dignas para governar. Porque nesta
história os contribuintes são e continuarão a ser os únicos a ser
sacrificados.
Não me espanta que não tenha ocorrido a Pedro Passos
Coelho a gravidade desta escolha. O BPN não é, para este governo, um
problema político. É apenas um negócio que correu mal. Para nós, claro.
Daniel Oliveira