Os espanhóis já estão a pagar o resgate aos bancos

"A Espanha não tinha um problema de dívida pública. Não tinha mas terá.Porque o resgate europeu à banca espanhola foi uma condenação do Estado espanhol a assumir as dores do seu sistema bancário em mais uma nacionalização dos seus encargos. Os problemas do sistema financeiro passaram a ser um problema do Estado que, na prática, assumiu como dívida sua. Sem qualquer certeza de que isto sequer venha a resultar.

É provável que os bancos espanhóis, em troca, venham a emprestar dinheiro ao Estado. Se assim for, estamos perante um "resgate" indireto ao Estado. E é possível que haja condições, por parte da União Europeia, para este resgate, que não conhecemos.

A prova de que se trata de uma transferência de fundos do Estado para o sistema financeiro foram os efeitos imediatos que esta operação teve no rating da dívida soberana espanhola. Isto apesar de, tal como se diz em relação às injeções de capital no BPI e BCP, todos garantirem que as condições para o Estado são excelentes e os contribuintes ainda vão lucrar com o negócio. Os espanhóis vão já começar a pagar, no aumento dos juros de compra de títulos do tesouro (que nem os prováveis empréstimos da banca espanhola irão resolver), os custos do financiamento público ao sistema bancário. A Moody's explica que, ao recorrer àquilo que Rajoy eufemisticamente chama de "linha de crédito", se aumentou o peso da dívida do País. Quem ainda não o tinha percebido?

A parte interessante de tudo isto é como o discurso sobre a necessidade dos Estados contraírem as suas despesas e não se endividarem mais desaparece quando estão em causa os bancos. E como, em troca de tanta generosidade e despesismo público, não se fazem verdadeiras "reformas estruturais" na forma como a banca continua a funcionar.

Ao que parece, os países não podem viver sem um sistema bancário saudável. Mas podem viver sem crescimento, sem consumo interno e com um desemprego acima dos 20%. Salvamos os bancos? Duvido que, sem crescimento, não se trate apenas de adiar a sua morte. Mas mesmo que resultasse, se ao mesmo tempo dizimamos as economias europeias, eles vão servir para financiar exatamente o quê?"

Daniel Oliveira (Arrastão)