A Golpada!

A título prévio uma breve declaração de interesses: nunca apreciei o estilo de António Borges, personalidade que considero bafienta, oportunista e portadora do síndrome de snobite aguda. Posto isto, naturalmente que, em democracia, todo o ser humano tem direito a dizer os disparates que bem entender. No entanto, ilustres figuras como esta, tendo em conta as funções que desempenham, deveriam tem o decoro que se impõe, sobretudo num momento tão difícil para Portugal e para os portugueses.


Na passada semana, o país inteiro ficou a saber duas coisas: que este senhor, pelo facto de ser funcionário do FMI, tem o seu salário isento de impostos e que, na sua opinião, o problema do nosso país resolve-se com uma redução dos salários. Já não é a primeira vez que, eminências pardas como este Sr. Borges, insistem em opinar sobre o bolso e a carteira dos outros. Não recorro à demagogia fácil de dizer que, como castigo, deviam todos receber o salário mínimo nacional. Obviamente que não. Mas começa a ser politicamente insuportável ler e ouvir propostas emanadas por gente como esta, sempre pronta a dar palpites sobre a carteira dos outros, mas incapazes de, por uma vez na vida, dar o exemplo. Depois de, em 2011, ter recebido 225 mil euros sem pagar um cêntimo de impostos, é pelo menos justo reconhecer ao Sr. Borges uma rara falta de vergonha na cara.


Mas este senhor não se limita a, de quando em vez, dizer uns disparates. A convite do Primeiro Ministro, António Borges lidera uma equipa que acompanha, junto da troika, os processos de Privatizações, as renegociações das Parcerias Público-Privadas, a reestruturação do Sector Empresarial do Estado e a situação da banca. E, no exercício destas funções, António Borges tem cumprido muito bem o seu papel: defender ao máximo os interesses privados e prejudicar, sem qualquer tipo de limite, o Estado Português. Obviamente que só fica surpreendido com tudo isto quem ande distraído. Como funcionário de uma instituição financeira, a Goldman Sachs, responsável pelas vigarices que todo o mundo hoje conhece, só Passos Coelho poderia acreditar na generosidade do Borges.


E quanto à Goldman Sachs e como é público e notório, esta instituição ajudou, a partir de 2002, a Grécia a encobrir os reais números do défice, através de ‘swaps' cambiais com taxas de câmbio fictícias. Com este esquema fraudulento, Atenas conseguiu aumentar a sua dívida sem reportar esses valores a Bruxelas. A Goldman Sachs, por esta engenharia financeira, vulgo aldrabice, cobrou uma choruda comissão. Entretanto e à cautela, em 2005, vendeu os ‘swaps' a um banco grego, protegendo-se assim de um eventual incumprimento por parte de Atenas. No início de 2010, os analistas do Goldman recomendaram aos seus clientes a apostar em ‘credit-default swaps' sobre dívida de bancos gregos, portugueses e espanhóis! E é com base nos princípios que o Sr. Borges aprendeu e praticou, também na Goldman Sachs, que o que resta do nosso Estado vai ser alvo de uma monumental e histórica golpada.

in: Verdadeiro Olhar