Se não escrevesse, uma grande parte da população nunca saberia a
sorte que tem em ter Passos Coelho como primeiro-ministro. Os leitores
podiam ficar-se apenas pelo título, que já iriam bem aviados: “Ainda bem
que nos saiu Passos Coelho”, chama ele ao seu artigo.
Mas vejamos o que nos diz:
No cenário de o PS ter ganhado as eleições em Junho “… há meses que Portugal andaria, como a Grécia andou, a dizer que não era possível cumprir o acordo – e, de facto, não teria sido [mas eles sim, eles cumprem, sabemos a que preço. Quando já não houver país, cumpri-lo-ão mesmo até ao fim]. Em 2011 teríamos falhado as metas do défice e em 2012 iríamos pelo mesmo caminho. Estaríamos hoje na mesma situação que a Grécia estava um ano depois de ter assinado o seu memorando [sim, porque agora estamos muito melhor], ou seja, de novo de mão estendida e ainda em piores condições para ter qualquer política de “crescimento e emprego”.” [Neste registo, o céu é o limite]
E acrescenta: “Já passou um ano, já passaram quatro avaliações,
já passaram muitas previsões de que seria da próxima que Portugal ia
ficar mal, e tudo continua a correr conforme o previsto. [ou seja, Portugal está a ficar bem] Ainda bem. Parece pouco, mas é muito: é o que nos aproxima da Irlanda e afasta da Grécia [a Irlanda não sai da cepa torta, as suas contas continuam péssimas]. Tudo tem corrido, no essencial, bem [em que sentido? O “bem” depende do ponto de vista do observador e do recheio da respetiva carteira] porque
este Governo acredita nas metas que tem de cumprir e nas reformas que
tem de fazer. É isso que o diferencia do anterior executivo, que
preferia tentar não cumprir mascarando as contas. [I beg your pardon? Alberto João, o subtrativo, à cabina de som!] E é isso que o diferencia dos sucessivos governos gregos.” [Tudo aponta para um caso de sucesso, como toda a gente vê]
“Muitas das ideias que o PSD assumiu, contra ventos e marés, no
seu programa são as que estão a ser aplicadas e representam uma viragem
profunda na forma como em Portugal sempre se colocou a dependência do
Estado, do subsídio e da cunha, no centro de tudo. Há séculos que é
assim e Passos Coelho quis e quer mudar isso. Não é hiperliberalismo, é
apenas um bocadinho de liberalismo numa sociedade asfixiada que sempre
se virou para o Estado como solução de todos os problemas.” [Não, era só solucionar o problema do pote; para ele, querer o Estado é algo de mais seletivo]
E termina, depois de uns gentis reparos (em que prova, aliás, que
este governo pouco fez em termos de redução da despesa, como apregoava
que faria imediatamente e com grande simplicidade) para que não lhe
chamem engraxador: “Mas, na hora do balanço, tenho de ser justo: o
mais importante era tentar um novo caminho para Portugal, com tudo o que
implica de dor e de risco, e isso está a ser feito [que bom!]. Por isso repito: ainda bem que nos saiu Pedro Passos Coelho [Que injustiça. Então e o Relvas?]. Algo de realmente diferente e novo, até para o PSD.” [muitos ainda não acreditam no que veem]
JMF está contente. Mas delira em quatro colunas. Com todos os
indicadores a piorar, a dívida a aumentar quase para 120% do PIB e sem
qualquer perspetiva de descida no horizonte, a redução do défice apenas
conseguida, se a conseguirem, graças aos fundos de pensões da banca, as
receitas a diminuir mais do que o esperado, o desemprego galopante, a
economia agonizante, a debandada dos mais capazes, a EDP e a REN nas
mãos dos chineses (mas com os mesmos CEOs) por 2000 M€ sem que o
consumidor tenha disso retirado qualquer benefício, os transportes num
caos – mais caros, com pior oferta e, apesar disso, a somarem aos
défices, défices ao quadrado, a saúde afunilada e o ensino a retroceder
70 anos, só mesmo um José Manuel Fernandes para nos mostrar como devemos
agradecer a deus a sorte que nos coube.
in: Aspirina B