Estas reservas não advém do objetivo central do FAM, uma medida necessária para socorrer municípios com extremas debilidades financeiras, mas antes, as condições de criação e financiamento deste fundo.
É necessário referir que os municípios que atualmente se encontram em pré falência, devem esta situação aos autarcas que estiveram à frente dos seus destinos municipais e ao próprio Estado que tendo legalmente tutela sobre os municípios, não atuou em conformidade, deixando que o endividamento municipal ganhasse escala.
Por esta ordem de razão, seria facilmente compreendido que quem deveria financiar a totalidade do FAM seria o Estado, aplicando as sanções e contrapartidas que entendesse e apurando as responsabilidades legais por tal situação – não deixando passar em claro declarações como as de Jaime Marta Soares, presidente da CM VN Poiares entre 1975/2013, ao referir que não tem “qualquer responsabilidade na atual situação financeira municipal”.
No entanto, quiçá imbuídos no espírito (santo) que há largas décadas paira em Portugal, paga o justo pelo pecador, sendo os contribuintes a pagarem consecutivamente os erros de gestão de grandes grupos privados – grupos esses que ideologicamente tem horror à causa pública, mas quando necessitam, recorrem à preciosa ajuda do Estado.
No caso em apreço, os municípios que sempre geriram os seus parcos recursos com ponderação, vêm-se na obrigatoriedade de contribuírem no pagamento dos erros de gestão dos outros.
Assim, aprovada a Lei 53/2014, os Municípios Portugueses que, tal como Lousada, sempre tiveram uma gestão responsável, vêm-se na obrigação pagarem 50% deste fundo e privarem o seu povo de verbas essenciais para a promoção e manutenção da qualidade de vida dos seus cidadãos.
Isto é algo que não podemos aceitar, muito menos as ameaças feitas à Ass. Nacional dos Municípios Portugueses no sentido de concordar com o diploma legal, sob o prejuízo de ser aprovada através da maioria PSD/CDS na Assembleia da República uma contribuição ainda maior por parte dos municípios (70%).
Numa altura em que tanto se fala em premiar os bons gestores públicos, este é um péssimo sinal.
Um argumento demagógico usado pela maioria governamental para sustentar esta opção, surge quando tentam comparar os contributos “solidários” de diversos países a Portugal no âmbito do programa de ajustamento financeiro. Se assim fosse, deveria ser pago aos municípios contribuidores do FAM, uma taxa de juro altíssima e muito aliciante, o que não é o caso.
O Estado continua a não perceber que está a matar o poder local. Diversos municípios dão provas que conseguem gerir bem o dinheiro público, mas não é retirando consecutivamente verbas e de forma obrigatória que irão manter esta linha de gestão. A asfixia financeira das autarquias locais, penalizando dia após dia os bons gestores municipais, está em marcha.
Nelson Oliveira
in: Verdadeiro Olhar
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